Primeiro-ministro condena milícias xiitas

Estado Islâmico reivindica quatro atentados a bomba no Curdistão

ERBIL – O primeiro-ministro interino do Iraque, Haidar al-Abadi, condenou ontem a atuação de milícias no país, e exigiu que elas se submetam à autoridade do Estado. A declaração contraria posição adotada por seu antecessor, Nuri al-Maliki, do mesmo partido xiita Pregação Islâmica, que havia convocado as milícias a defenderem o Iraque contra o avanço do Estado Islâmico. Em sua primeira entrevista coletiva, em Bagdá, Abadi se mostrou otimista de que conseguirá formar um governo de coalizão até o dia 10, quando vence o prazo legal de um mês desde sua indicação.

“Não aceitaremos a formação de grupos armados fora do controle do Estado”, disse Abadi. Ele anunciou que foram emitidas ordens de prisão contra quatro homens acusados de envolvimento no massacre de 68 sunitas em uma mesquita na província de Diyala, ao norte de Bagdá, na sexta-feira. O massacre – por sua vez uma aparente vingança por um ataque no mesmo dia contra o líder de uma milícia xiita, que deixou três de seus homens mortos – desencadeou uma onda de retaliações de ambos os lados, que continuou ontem.

Novas milícias xiitas estão sendo formadas a cada dia, com fardas e armas financiadas com verbas dos governos do Irã e do próprio Iraque, segundo denúncias. Em junho, o aiatolá Ali Sistani, mais importante líder religioso xiita do Iraque, convocou os fiéis a enfrentar o EI, o que levou milhares de xiitas a se apresentarem como voluntários, ao mesmo tempo em que o Exército iraquiano abandonava suas posições nas províncias ao norte de Bagdá. Depois de se reunir no domingo com Abadi, o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, visitou o aiatolá em Kerbala, cidade sagrada xiita.

O avanço do EI foi facilitado pela recusa dos sunitas, tanto no Exército quanto nas tribos locais, em defender o governo do xiita Maliki, acusado de privilegiar os xiitas e de hostilizar os sunitas. Sistani ajudou na solução da crise, exortando Maliki a deixar o cargo, permitindo a formação de um governo mais inclusivo e menos sectário. O Irã e políticos do partido de Maliki também retiraram o apoio ao então primeiro-ministro e aprovaram o nome de Abadi. O chefe de governo interino disse ontem que em breve seria nomeado um gabinete com “uma visão clara”.

Logo depois de suas declarações, um suicida detonou os explosivos em seu colete no horário de orações em uma mesquita xiita no bairro Nova Bagdá, matando 9 pessoas e ferindo 21. Outros dois carros-bombas explodiram em Kerbala, deixando dois mortos e 17 feridos, de acordo com a agência Reuters.

O EI, por sua vez, reivindicou quatro atentados com carros-bomba no fim de semana no Curdistão iraquiano: três em Kirkuk, província petrolífera ocupada pelos peshmergas, soldados curdos, para evitar o avanço do grupo jihadista; e um em Erbil, a capital da região autônoma. O grupo afirmou que os atentados foram uma resposta à aliança entre os peshmergas e os Estados Unidos, cujos aviões têm bombardeado posições do EI, permitindo o avanço das forças curdas.

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