Autoridade Palestina alerta os radicais para evitar atentados

Arafat é aconselhado a apoiar os EUA para não sofrer novo isolamemto político

RAMALLAH – Os encarregados da área de segurança da Autoridade Palestina chamaram interlocutores dos grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica para dizer o seguinte: “Se vocês cometerem a besteira de ordenar um atentado terrorista em Israel neste momento, vão se ver conosco.” A informação é de uma alta fonte da Autoridade Palestina, que falou ao Estado sob a condição de não ter o seu nome publicado.

De acordo com essa fonte, a liderança palestina está consciente de que essa é uma oportunidade de corrigir erros do passado e de demonstrar ao novo governo americano o valor de sua parceria. “Eles precisam de nós. Nós conhecemos esse mundo como ninguém”, disse o alto funcionário palestino, referindo-se à intrincada rede do terrorismo islâmico internacional. Com esse trunfo nas mãos, os palestinos confiam que podem contrabalançar a imensa desvantagem política representada pela vinculação que tem sido feita entre os ataques aos Estados Unidos e a causa palestina.

O chanceler alemão, Gerhard Schröder, e o presidente francês, Jacques Chirac, falaram com o líder palestino Yasser Arafat pelo telefone, na sexta-feira, e ambos transmitiram, em essência, a mesma mensagem: “Apóie os EUA sem impor condições e depois vemos o que se pode fazer por vocês.”

Arafat, disse a fonte ao Estado, não quer repetir o erro de dez anos atrás, quando foi surpreendido “do lado errado”, apoiando o ditador iraquiano Saddam Hussein, em seguida à invasão do Kuwait.

O líder palestino tem se desdobrado para provar isso. Menos de três horas depois do ataque a Nova York, Arafat apresentou prontamente suas condolências aos americanos. Chamou a imprensa para registrá-lo doando sangue para ser enviado às vítimas do ataque e ordenou que todo o primeiro escalão fizesse o mesmo. Mandou que parassem as celebrações dos palestinos – embora tenham continuado a ocorrer –, promoveu vigílias de crianças palestinas em memória das vítimas, na frente do consulado americano em Jerusalém, durante três dias consecutivos, e decretou que as escolas públicas palestinas observassem cinco minutos de silêncio.

“Essa posição não é popular, porque os palestinos estão muito revoltados (com Israel e, por extensão, com seus aliados americanos), mas é preciso ter sangue-frio neste momento”, disse a fonte palestina.

Em contrapartida, o governo americano advertiu Israel de que não deveria aproveitar o momento para promover uma escalada na repressão aos palestinos, em meio à intensificação das ações militares nas principais cidades palestinas. Com tudo isso, a liderança palestina sabe que os benefícios só devem ser esperados no médio ou longo prazo. De imediato, a situação favorece Israel, que reemerge como parceiro privilegiado no campo da inteligência e, eventualmente, militar.

À primeira vista, pareceu uma briga quase gratuita. Guardas de fronteira israelenses e palestinos entraram em confronto no dia 1.º de junho do ano passado, no posto de Rafah, na divisa entre o Egito e a Faixa de Gaza. Os dois lados disputavam um palestino detido no posto fronteiriço. Dez policiais palestinos ficaram feridos. Os israelenses levaram a melhor e entregaram o suspeito aos agentes do Shin Bet, o serviço de segurança interna de Israel.

Só agora ficou claro por que o palestino Nabil Ukal, de 27 anos, residente do campo de refugiados de Jabaliya, na Faixa de Gaza, era tão valioso. De acordo com fontes do Shin Bet citadas pelo jornal Haaretz, Ukal é tido como o primeiro enlace, nos territórios palestinos, da Al-Qaida, a organização terrorista comandada por Osama bin Laden.

Segundo as fontes, Ukal deixou a Faixa de Gaza em outubro de 1997, para realizar estudos religiosos no Paquistão, país que apóia o regime fundamentalista do Taleban no Afeganistão. Lá, teria ingressado na organização de Bin Laden e recebido treinamento paramilitar. No ano seguinte, teria sido enviado de volta com a missão de montar uma base de operações nos territórios palestinos. Ainda de acordo com o Shin Bet, Ukal entrou em contato com o líder espiritual do Hamas, o xeque Ahmed Yassin, que por sua vez não sabia de sua ligação com Bin Laden.

Ukal, acusado de planejar um atentado contra soldados do Exército israelense, é uma amostra da consistência do material de inteligência que israelenses e palestinos podem fornecer aos EUA. Além dele, estima-se que outros dez membros da organização de Bin Laden tenham sido presos pelo Shin Bet e pela polícia palestina.

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