Coalizão cria uma das maiorias mais amplas da história de Israel

As realidades são muito diferentes, mas é como se o PT e o PSDB se aliassem, e pudessem governar sem fazer concessões a partidos pequenos que cobram caro pelo seu apoio. Depois de uma noite de negociações, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o principal líder da oposição, Shaul Mofaz, surpreenderam Israel ao anunciar uma coalizão de governo.

Com 94 das 120 cadeiras da Knesset (Parlamento), o novo governo tem uma das maiorias mais amplas da história de Israel, cujo parlamentarismo é marcado pela fragmentação partidária e instabilidade política.

Do ponto de vista dos interesses partidários imediatos, o acordo foi impulsionado pelo risco iminente – para o Kadima e o Likud, que têm as maiores bancadas – de dissolução do governo de Netanyahu e convocação de novas eleições. O primeiro-ministro perdeu apoio de partidos ultraconservadores ao acatar uma decisão da Justiça de desmantelar dois assentamentos ilegais na Cisjordânia e também por sua tendência a não renovar uma lei que isenta os judeus ortodoxos de cumprir o serviço militar obrigatório, cuja validade expira no dia 1˚ de agosto.

O tema é sensível para os israelenses. A imensa maioria das famílias seculares sente que seus filhos e filhas se sacrificam por 14 a 18 meses, enquanto os ortodoxos estão livres disso. A isenção do serviço militar é apenas um dos muitos benefícios de que eles usufruem. Os haredim, por exemplo, uma das correntes mais religiosas, são isentos também de trabalhar – e vivem da ajuda do Estado, calculada de acordo com o número de filhos que têm – a título de dedicar todo seu tempo ao estudo da Torá. São privilégios que enfurecem muitos eleitores, mas que se mantêm graças ao papel de fiel da balança que alguns partidos religiosos pequenos desempenham na Knesset.

A coalizão pode ter impacto sobre duas questões de repercussão mundial: as negociações – ou a falta de – com os palestinos e as tensões envolvendo o programa nuclear iraniano.

O Kadima, que significa “Adiante”, em hebraico, foi fundado em 2005 pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon, por causa da oposição que ele sofreu dentro do seu partido, Likud, à sua decisão de se retirar da Faixa de Gaza. O seu plano, chamado de “desengajamento”, que incluía também parte da Cisjordânia, foi interrompido pelo derrame cerebral que o levou ao coma em janeiro de 2006, e do qual não voltou.

Nascido em Teerã, o general Mofaz, um ex-ministro da Defesa, tem advertido para os riscos, para a segurança de Israel, de uma eventual ação militar israelense contra o Irã.

Ao anunciar a coalizão, Netanyahu e Mofaz deram a entender que ela redefinirá a política israelense em relação aos palestinos e ao Irã. O primeiro-ministro chegou a dizer que os palestinos não deveriam perder essa oportunidade. Mas é Israel que acaba de abraçar uma oportunidade rara.

Publicado em O Estadão. Copyrigth: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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