Israel também perdeu a guerra, diz representante da OLP

Segundo Ahmad Sobeh, palestinos “pagaram com sangue” resultados da posição assumida na guerra do Golfo

Israel não sabe, mas também perdeu a guerra do Golfo Pérsico. É o que afirma o representante da Organização de Libertação da Palestina no Brasil, Ahmad Sobeh. Em visita à redação do Estado, Sobeh, chefe do escritório da organização em Brasília, avaliou a política da OLP e as perspectivas do processo de paz.

Estado – A OLP, cujo diálogo com os EUA está oficialmente suspenso, aceita as condições americanas para levar à frente a conferência. Israel, tradicional aliado dos EUA, coloca empecilhos. Os papéis se inverteram no Oriente Médio?

Ahmad Sobeh – O que o primeiro-ministro Yitzhak Shamir não percebeu é que não foi só o Iraque que perdeu a guerra do Golfo: Israel também. Com o envio das forças americanas para os países do Golfo e os acordos militares posteriores, os EUA obtiveram acesso direto à região. Israel não tem mais o peso estratégico que tinha. Para os EUA é fundamental agora obter sucesso no processo de paz, e Israel não será mais poupado. Shamir não compreendeu isso. Lamento dizer, mas a política dele não está à altura do que os israelenses precisam.

Estado – A OLP também se asfixiou por sua posição na guerra.

Sobeh – A OLP está superando os resultados negativos produzidos pela guerra. Buscamos uma coordenção política com os outros países árabes. Sem dúvida, pagamos com nosso sangue os resultados da guerra do Golfo. Sobretudo a comunidade palestina no Kuwait. Houve um castigo coletivo, um revanchismo desnecessário. Isso é injusto, independentemente da posição adotada pela direção da OLP.

Estado – Então o senhor assume que houve um erro político?

Sobeh – Não. Nenhum documento palestino apoiou a ocupação iraquiana do Kuwait. Sempre dissemos que a aquisição de território árabe pela força é condenável. Portanto, a OLP não se arrepende de sua posição. Fomos contra a guerra. Mas, mesmo que tivéssemos apoiado o Iraque, desde quando uma posição em política externa desqualifica ou deslegitima um governo?

Estado – A OLP estaria agora disposta a atender à exigência americana para retomar o diálogo com os EUA, ou seja, condenar o ataque de comandos palestinos a praias de Tel-Aviv, em maio do ano passado?

Sobeh – Acho que em política ninguém pede desculpas. Desde o primeiro momento daquela operação, a OLP fez duas coisas. O próprio Yasser Arafat disse que essa operação não era de seu conhecimento, e abriu um inquérito sobre o assunto. O Parlamento palestino inclusive afastou Abul Abbas, o suposto responsável por isso.

Estado – Não teria sido mais prático condenar o ataque às praias de Tel-Aviv ou a ação militar iraquiana?

Sobeh – Os palestinos não têm de aceitar esse tipo de condições. Não cabe aos EUA dizer quem a OLP deve ter em sua direção ou que posição tomar diante de determinado conflito.

Estado – Com o aparecimento no cenário internacional de Faiçal Husseini, Hanan Ashrawi e Haider Abdel Chafi, existe um deslocamento de poder da OLP para os líderes dos territórios ocupados?

Sobeh – Quem designou 14 pessoas para ir a Madri? Houve alguma resolução palestina nos territórios ocupados que elegeu a delegação? Arafat disse claramente: “Designamos Haidar Abdel Chafi presidente da delegação, Faiçal Husseini coordenador político e Hanan Ashrawi porta-voz.” Portanto, a OLP não se sente deslocada porque quem está negociando são seus quadros. Há aí uma hipocrisia desnecessária. Dos 14 presentes, 13, começando por Faiçal Husseini, foram encarcerados por Israel mais de uma vez por serem membros da OLP.

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