Movimento palestino continua unido, garante deputado

Membro do Conselho Nacional Palestino diz que Israel contrata agentes para insuflar conflito interno

Os casos de execuções de palestinos por palestinos nos territórios ocupados resultam de uma estratégia de Israel para dividir o movimento. A afirmação foi feita por Hamdi el-Rifi, deputado do Conselho Nacional Palestino (CNP). Em entrevista ao Estado, ao passar por São Paulo, El-Rifi assegurou que os palestinos estão unidos.

El-Rifi, de 39 anos, mora em Túnis (Tunísia), sede da Organização de Libertação da Palestina (OLP). O deputado faz um curso de doutorado em Direito em Argel, na Argélia, e é secretário-geral da União Geral dos Estudantes Palestinos (Agups). Ficou preso de 1971 a 84 em Israel, e exibe marcas que diz serem de tortura.

O Conselho Nacional Palestino – o Parlamento no exílio – é composto de 400 deputados. As cadeiras são divididas do seguinte modo: um terço para dirigentes das organizações populares e sindicatos; um terço para representantes da comunidade palestina fora dos países árabes; e um terço para os grupos e partidos políticos que compõem a OLP.

Hamdi el-Rifi tornou-se deputado do CNP ao se eleger secretário-geral da União Geral dos Estudantes Palestinos (Gups), no ano passado. A Gups, que tem 50 sedes em todo o mundo, inclusive nos territórios ocupados, elege a cada três anos seus 33 dirigentes, que indicam os 11 integrantes do Comitê Executivo, todos com cadeiras no CNP.

Estado – Segundo a agência Reuters, este ano 63 palestinos foram mortos por palestinos, sob acusação de colaborar com Israel, enquanto 50 morreram em confronto com o Exército israelense. A intifada (levante) se tornou uma guerra entre palestinos?

Hamdi el-Rifi – Israel procura recrutar agentes para voltar palestinos contra palestinos. Este é o modo que Israel tem para dizer que há problemas no movimento palestino. Mas nosso grau de unidade é muito grande. Em comparação com outras revoluções, a Palestina é a que menos tem problemas com a questão do colaboracionismo. Israel usa também israelenses disfarçados de árabes, com carros com placas árabes, para liqüidar líderes palestinos.

Estado – Alguns líderes nos territórios ocupados tentam fundar um partido alternativo à OLP. Também seguem ordens de Israel?

El-Rifi – Ainda não surgiu uma organização para substituir a OLP. Prova disso é que, ao se reunir por quatro vezes com o secretário de Estado americano, James Baker, a delegação de palestinos dos territórios ocupados declarou estar sob a liderança da OLP. Eles repetiram todas as exigências da OLP.

Estado – E o Movimento de Resistência Hamas?

El-Rifi – O Hamas é uma organização islâmica sunita que possui pontos de vista radicais. Sua presença é minoritária entre palestinos, mas ela tem um papel na intifada. Sua visão é distinta daquela da OLP, por exemplo quanto ao plano de paz. Mas essas divergências fazem parte da democracia. Fazemos uma revolução democrática, e pretendemos estabelecer um Estado democrático, com todas as religiões e um Parlamento.

Estado – Como estão as relações entre a OLP e os países árabes que apoiaram os EUA na guerra do Golfo, e pararam de enviar dinheiro à organização?

El-Rifi – A OLP procurou uma solução árabe para o conflito do Golfo, porque sabia que os EUA queriam aproveitar a situação para implantar suas bases militares na região. A OLP tinha muita clareza dessa estratégia, e propôs ao mesmo tempo que o Iraque se retirasse do Kuwait. Mas, ao contrário do que muitos pensam, não eram os governos que mandavam dinheiro para a OLP. Os próprios palestinos que trabalham nos países árabes do Golfo é que enviavam 5% de seus salários. Os governos agora proibiram esse envio. É verdade que a posição da OLP na guerra lhe trouxe muitas dificuldades, mas ela continuará resistindo.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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