OLP diz que política americana impede paz

Ambivalência dos EUA causa recrudescimento nos territórios ocupados, avalia diretor de Informação

O derramamento de sangue em Israel e nos territórios árabes ocupados prosseguirá enquanto os Estados Unidos utilizarem “dois pesos e duas medidas” em sua política para o Oriente Medio. É o que afirma Jamil Hilal, diretor do Departamento de Informação da Organização de Libertação da Palestina (OLP), em entrevista concedida ao Estado, da sede da organização em Túnis (Tunisia). Hilal fala da nova estratégia da intifada (levante) e dos desdobramentos do conflito árabe-israelense.

Estado – Os palestinos nos territórios ocupados e em Israel começam a usar armas brancas e mesmo de fogo contra os israelenses. Mudou a natureza da intifada, antes restrita a jogar pedras?

Jamil Hilal – A natureza da intifada não mudou e não mudará. Continua sendo um levante popular contra a ocupação israelense, já que sua força consiste justamente no caráter de massa e democrático. A intifada se dedica a várias formas de desobediência civil, como manifestações, greves gerais, recusa de pagar impostos ao governo israelense, etc. Israel reagiu com arrogância e rejeição à iniciativa de paz apresentada há um ano pelo Parlamento palestino no exílio, baseada na proposta de “dois povos, dois Estados”. Noutras palavras, uma proposta de estabelecer um Estado palestino ao lado de Israel. A rejeição por parte de Israel de nossa Iniciativa de paz causou frustração nos palestinos, agravada pelo massacre de 35 pessoas (o número oficial é 18) no mês de outubro em Jerusalém. Foi isso que gerou o aumento no número de ataques com punhais contra soldados israelenses.

Estado – A OLP reconhece então uma escalada de violência nos territórios?

Hilal – Infelizmente, a reação da comunidade internacional à intensificação da repressão por parte de Israel ficou aquém do que o nosso povo esperava. Especialmente considerando a reação dos Estados Unidos e da Europa à ocupação iraquiana do Kuwait. No caso do Iraque, uma enorme força foi deslocada para o Golfo Pérsico, combinada com um total e estrito bloqueio econômico.Esse comportamento político ambivalente dos EUA, um aliado estratégico de Israel, que coincidiu com o recrudescimento das forças de segurança israelenses nos territórios ocupados, produziu uma demanda por novas táticas da intifada. A ocupação israelense ficará mais cara em termos militares e humanos.

Estado – Como a OLP lida com o assentamento de judeus soviéticos em Israel, e os planos do governo israelense de enviá-los também para os territórios ocupados?

Hilal – O fluxo de judeus soviéticos para Israel criou novos problemas para a diplomacia palestina. Enquanto os judeus – de qualquer país – têm permissão para viver em Israel, e são tratados como cidadãos plenos assim que põem os pés no país, o governo israelense nega aos palestinos o direito de voltar para casa. Mais que isso, o assentamento é financiado pelos Estados Unidos, que fixou em 40 mil por ano o número de judeus soviéticos que podem imigrar para Israel.

Estado – Quais as conseqüências disso?

Hilal – A pressão dos imigrantes judeus alimenta os partidos de extrema direita em Israel, encorajando o primeiro-ministro, Yitzhak Shamir, a defender abertamente a anexação dos territórios árabes ocupados, para dar lugar a quem chega. Esse assentamento torna mais distante uma saída política para o conflito, e só pode conduzir a mais guerras e derramamento de sangue na área.

Estado – Recentemente, os EUA suspenderam o diálogo com a OLP, por causa da recusa da organização em condenar o ataque de uma facção palestina à costa israelense em maio. A OLP está determinada a não aceitar a condição imposta pelos americanos para retomar as negociações?

Hilal – Mesmo antes da suspensão, os EUA já estavam deslocando o centro das conversações para o governo egípcio, com o objetivo de minar o diálogo e pressionar a OLP para que aceitasse o plano de paz do secretário de Estado James Baker, onde não se determinam os direitos dos palestinos, e não é exigida a retirada israelense dos territórios ocupados. Portanto, não acreditamos que os EUA estivessem empenhados no diálogo. O verdadeiro propósito americano era utilizar o diálogo para pressionar a OLP e ganhar tempo, de modo que Israel recuperasse fôlego, perdido xcom o crescimento da intifada. É inaceitável que os EUA continuem a usar dois pesos e duas medidas: um para os palestinos, outro para os israelenses; um para a crise do Golfo, e o oposto para o conflito árabe-israelense.

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