Para analistas, Israel deve ter benefícios políticos dos ataques

A partir da tragédia, os americanos entenderão melhor a luta contra o terrorismo islâmico

JERUSALÉM – Se muitos palestinos festejaram o ataque de terça-feira aos Estados Unidos, um número significativo de analistas israelenses identifica na tragédia possíveis benefícios para Israel. Ao contrário da alegria espontânea e transbordante dos palestinos, o indisfarçado contentamento desses israelenses é resultado de um frio cálculo político: a partir deste Setembro Negro, os americanos passarão a entender melhor as contingências da luta contra o terrorismo islâmico suicida, e sua sinistra eficácia.

“Certamente, haverá nos Estados Unidos aqueles que expressarão seu desgosto com o Oriente Médio, mas é difícil esperar que o ataque terrorista maciço tenha influência negativa sobre o apoio americano a Israel”, estima Zeev Schiff, em artigo publicado ontem no jornal Haaretz, de Tel-Aviv. “É mais provável que os americanos entendam melhor a dor de Israel quando têm de enfrentar atentados suicidas.” Outro analista, Yoel Marcus, observou:

“Depois de terça-feira, todo americano entenderá o significado da batalha de Israel contra o terrorismo.”Para reforçar a proximidade psicológica entre os dois países, alguns analistas lembram que o ex-presidente George Bush, pai do atual presidente americano, também assistiu a palestinos manifestando apoio a outro inimigo dos Estados Unidos, o Iraque, durante o conflito do Golfo Pérsico, entre 1991 e 1992. Referindo-se às imagens dos palestinos dançando mais uma vez nos tetos das casas e distribuindo doces para celebrar o golpe sofrido pelo “Grande Satã” americano, Marcus assinalou que “a família Bush conhece essa melodia, não gosta dela e não a esquecerá”.

Lembrando a reação americana ao ataque japonês a Pearl Harbour, em 1941, que suscitou o engajamento dos Estados Unidos na 2.ª Guerra Mundial e o bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki, o analista Amir Oren postula, como que esfregando as mãos: “Sem dúvida, a América, como líder do mundo livre, se erguerá depois do terrível golpe de terça-feira, declarará guerra a seus inimigos e os combaterá até o fim.”

Num paralelo com a coalizão de 30 países, incluindo os do mundo árabe, formada para expulsar o Iraque do Kuwait, Oren diz que “esta é mais uma oportunidade para Israel, se o país for sábio o bastante para participar de uma aliança – ao mesmo tempo de combate e de busca da paz – para ser visto como membro do clube dos bons contra o clube dos maus, que inclui o líder palestino Yasser Arafat e os grupos terroristas fanáticos Hamas e Hezbollah, com o apoio de um Irã que está obtendo armamento nuclear”.

Há, também, um tom de “eu avisei” nos comentários dos israelenses, vários deles salientando que o serviço de inteligência de Israel advertiu reiteradamente os Estados Unidos para o perigo de um ataque dessa natureza. Ignorando dois importantes fatores – a diferença de dimensão territorial dos dois países e o fato de que os aviões usados nos ataques a Nova York e Washington foram seqüestrados dentro dos EUA –, alguns lembram, com certo orgulho, que a Força Aérea israelense derrubou recentemente um avião vindo do Líbano, cujo piloto se recusou a identificar-se.

O espaço aéreo israelense permaneceu, ontem, fechado às companhias aéreas estrangeiras, permitindo apenas a entrada de aviões da companhia israelense El Al. O país observou luto, com as rádios estatais tocando apenas músicas sóbrias. E o governo coleta sangue tipo O, de doador universal, para abastecer os hospitais que atendem às vítimas do ataque aos EUA.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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