Sharon pode ser tirado hoje do coma

Médico diz que o estado do primeiro-ministro melhorou e, se condições se mantiverem, anestesia será reduzida

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de 77 anos, poderá ser retirado hoje do coma profundo induzido pelos médicos do Hospital Hadassah Ein Kerem, em Jerusalém, onde está internado desde a noite de quarta-feira, quando sofreu um derrame cerebral. O anúncio foi feito ontem pelo diretor do hospital, Shlomo Mor-Yosef.

“Uma equipe médica avaliou esta manhã os diferentes exames com escaneamento por tomografia computadorizada e observou uma ligeira melhora no tamanho do edema cerebral”, disse Mor-Yosef aos jornalistas, às 14h (10h em Brasília). Ele advertiu, no entanto, que o estado de Sharon “ainda é crítico, mas estável”. Segundo o médico, o sangue, que se espalhou pelo lado direito do cérebro de Sharon, está bem drenado. Os sinais vitais estão normais e a febre, no “limite do normal”.

Nova tomografia seria realizada esta manhã e, se essas condições se mantivessem, disse Mor-Yosef, os médicos reduziriam a profundidade da anestesia, podendo, a partir daí, constatar os danos causados pelo derrame no cérebro do primeiro-ministro. “Amanhã (hoje) a esta hora, estaremos em condições de informar melhor a situação do cérebro dele”, antecipou o médico. Ao sair do coma profundo, Sharon será submetido a estímulos, cuja resposta indicará a extensão do dano e as seqüelas deixadas pelo derrame.

O fato de o derrame ter ocorrido do lado direito do cérebro é favorável porque Sharon é destro, o que significa que sua memória e fala estão situados no hemisfério esquerdo. Uma imagem de tomografia feita na sexta-feira mostrou que o tecido do lado esquerdo não foi afetado.

De acordo com o neurocirurgião argentino José Cohen, que comandou as três cirurgias (num total de cerca de 16 horas) a que Sharon foi submetido na quinta e sexta-feira, o primeiro-ministro “tem todas as chances de sobreviver”, talvez possa entender e falar, mas não poderá voltar ao cargo. Cohen, de 39 anos, foi trazido para Israel pelo chefe do Departamento de Neurocirurgia do hospital, Félix Umansky, também nascido na Argentina, que o conheceu numa conferência em seu país natal. Em 2002, Cohen montou a Unidade de Neurocirurgia Endovascular do hospital.

Foi a primeira vez que um médico diretamente envolvido no caso afastou a hipótese de Sharon reassumir a chefia de governo. Com isso, intensificam-se as especulações sobre quem deverá sucedê-lo na liderança do partido Kadima (Adiante), fundado por Sharon em novembro, para aglutinar dissidentes do Likud, de direita, liderados por ele, e do Partido Trabalhista, vinculados ao ex-primeiro-ministro Shimon Peres.

A posição do vice-primeiro-ministro Ehud Olmert, que chefia o governo interinamente, pareceu mais sólida ontem, depois que Peres, visto como um possível postulante, anunciou seu apoio a Olmert na liderança do Kadima. Em entrevista à CNN, Peres, de 82 anos, disse que “discutiu a questão consigo mesmo” e concluiu que não quer voltar a ser primeiro-ministro de Israel, mas dedicar-se exclusivamente ao processo de paz, o que poderá fazer como um deputado do Kadima.

Peres foi o mais bem colocado em duas pesquisas feitas pelos jornais Haaretz e Yediot Ahronot, na quinta-feira. Ambas mostraram que o Kadima elegeria 42 dos 120 deputados da Knesset (Parlamento unicameral) sob a liderança de Peres, e entre 39 e 40, sob Olmert. Segundo a pesquisa do Haaretz, os trabalhistas obteriam 18 cadeiras e o Likud, 13. As eleições parlamentares estão marcadas para 28 de março.

Olmert, de 60 anos, procurou demonstrar desprendimento ontem: “Rezo para que minha passagem como primeiro-ministro interino seja breve, para que ‘o’ líder possa reassumir o cargo, que é o seu lugar”, disse ele, referindo-se a Sharon. O vice-primeiro-ministro, que ontem presidiu uma reunião do gabinete ao lado da cadeira vazia de Sharon, é tido como um hábil articulador de bastidores, embora não goze de muita popularidade.

 Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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