Com o fim da guerra, começa a volta

Israel respeita o cessar-fogo e milhares de refugiados libaneses congestionam as estradas para o Sul

TIRO, Sul do Líbano – Eles não quiseram esperar para ver se era mesmo para valer. Ansiosos por voltar para suas casas, milhares de libaneses pegaram as estradas ontem em direção ao sul, a partir das 7h (1h em Brasília), quando entrou em vigor o cessar-fogo previsto na resolução da ONU aprovada na noite de sexta-feira e acatado tanto por Israel quanto pelo Hezbollah. Apenas escaramuças menores ocorreram ontem; nada comparável com os intensos bombardeios e combates que duraram 33 dias.

Os mísseis, foguetes e fuzis deram lugar à guerra de palavras e imagens. Beirute amanheceu com dois novos panfletos despejados por aviões israelenses.

Um deles, dirigido “aos cidadãos de Beirute, diz: “O Hezbollah, que serve a seus mestres, os iranianos e sírios, levou-os à beira do abismo. O Hezbollah, com seus atos enganadores e tolos, trouxe a vocês tantas realizações, tais como a destruição, os sem-teto e a morte. Vocês podem pagar esse preço de novo? Saibam! O Exército de Defesa de Israel voltará e agirá com força contra quaisquer ações terroristas lançadas do Líbano contra o povo de Israel.”

O outro traz uma caricatura do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, fazendo um castelo de areia. “A maneira de agir do Hezbollah foi o que destruiu o Líbano”, diz o panfleto, citando a letra de uma música famosa da cantora libanesa Majda al-Roumi: “Ele me constrói um castelo de ilusão. Eu moro nele por alguns momentos e quando volto para minha mesa não tenho nada… só palavras.”

À tarde, o Hezbollah contra-atacou. Nos entroncamentos das estradas que levam para o Sul, congestionadas de carros que negociavam a passagem pelos desvios de uma só mão das pontes, viadutos e trechos de estradas destruídos pelos bombardeios israelenses, jovens distribuíam pôsteres com uma foto de Nasrallah e a frase em inglês: “A vitória divina” (tradução literal de “Nasrallah”).

Às 20h, Nasrallah fez mais um de seus pronunciamentos de 40 minutos transmitidos na íntegra pelos telejornais, quando proclamou “uma vitória estratégica e histórica” e prometeu ajudar a reconstruir as casas destruídas: “Não dá para esperar o governo libanês. A burocracia é muito lenta.”

Apesar do caos nas estradas, os libaneses demonstravam contentamento, nos carros e vans apinhados de gente, colchonetes e roupas. Muitos traziam a bandeira amarela e verde do Hezbollah, com um fuzil como símbolo, e faziam o “V” da vitória com os dedos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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