Hezbollah aceita resolução da ONU, mas continuará a luta

Israel acelera ofensiva para isolar grupo e anuncia trégua só para amanhã. Hezbollah derruba helicóptero israelense

BEIRUTE – O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, deu ontem o seu aval à resolução aprovada de madrugada (no horário libanês) pelo Conselho de Segurança da ONU destinada a “cessar as hostilidades” entre a milícia xiita e Israel. Em pronunciamento na televisão libanesa pouco antes das 18h (12h em Brasília), Nasrallah garantiu que o Hezbollah respeitará a resolução, apesar de julgá-la “injusta e desequilibrada”.

Nasrallah disse que o Hezbollah – que continua lançando foguetes contra Israel – não cessará as hostilidades enquanto estiver sendo atacado. Pelo menos até sexta-feira, a posição do governo israelense – que continua bombardeando o Líbano e ontem triplicou seu efetivo no Sul do país, de 10 mil para 30 mil homens – também era essa.

O círculo vicioso tornou a resolução da ONU inócua. Entretanto, a versão online do jornal israelense Haaretz informou ontem que Israel deve iniciar um cessar-fogo às 7h (1h em Brasília) de amanhã. O gabinete israelense se reúne hoje para decidir se aprova ou rejeita a resolução da ONU.

Antes de entrar numa reunião de emergência de seu gabinete para ratificá-la, o primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, declarou: “A resolução é uma vitória para os negociadores libaneses, comparada ao esboço anterior que fora apresentado antes de esta ser adotada.”

Pelo menos 19 civis libaneses morreram ontem nos bombardeios israelenses e nos combates entre Israel e o Hezbollah. O pior ataque ocorreu na aldeia de Rachaf, cerca de 7 quilômetros a norte da fronteira com Israel, onde 15 civis morreram. O Exército israelense garantiu ter alvejado “o ponto exato” do qual o Hezbollah disparou contra seus soldados. “É só mais um exemplo do uso de civis como escudos humanos pelo Hezbollah”, declarou uma porta-voz israelense.

Membros de uma equipe de resgate citados pela Reuters disseram que uma mulher caminhou 15 quilômetros escapando dos bombardeios, até uma aldeia perto de Tiro, mas eles não puderam chegar até ela por causa dos ataques contínuos a uma estrada ao longo da costa.

Na sexta-feira, um avião não-tripulado israelense disparou cinco mísseis contra um comboio que partira de Marjeyoun, no Sul do Líbano, e passava pelo Vale do Bekaa, em direção ao norte do país. Cerca de 3 mil pessoas, em centenas de carros, participavam da retirada. Sete pessoas morreram – incluindo um funcionário da Cruz Vermelha – e 36 ficaram feridas.

As autoridades israelenses alegaram que não haviam dado permissão para o comboio. O chefe da Cruz Vermelha libanesa, George Kettani, garantiu ontem, no entanto, que havia pedido e recebido salvo-conduto para o comboio, com a rota pré-estabelecida.

Mísseis israelenses também atingiram ontem um carro na aldeia de Kharayeb, cerca de 50 quilômetros ao norte da fronteira com Israel, matando três pessoas e ferindo cinco.

Os bombardeios israelenses continuam se estendo ao norte do Líbano. A província de Akkar, a cerca de 100 quilômetros ao norte de Beirute, foi alvo de vários ataques aéreos ontem.

O Exército israelense ocupou ontem uma colina estratégica perto do Rio Litani, no Sul do Líbano, depois de combates intensos com o Hezbollah, informaram fontes policiais citadas pela France Presse. Os soldados israelenses tomaram a aldeia de Ghanduriyé, 12 quilômetros a oeste da fronteira com Israel.

As autoridades israelenses anunciaram ter matado 40 combatentes do Hezbollah nos combates de ontem, e afirmaram que 30 israelenses ficaram feridos. Segundo Israel, 80 alvos foram atingidos ontem no Líbano. Já o Hezbollah afirmou ter matado 7 soldados israelenses e destruído 21 tanques. Um soldado libanês também morreu, num ataque aéreo perto de uma base do Exército no lado ocidental do Vale do Bekaa.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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