Libaneses se defendem de acusações

Depois de sete semanas de violenta repressão, em que empregou tanques e artilharia pesada e abriu fogo contra manifestantes em várias cidades do país, o regime sírio busca culpar o apoio de forças externas para explicar sua dificuldade de sufocar a rebelião.

BEIRUTE – Dois políticos libaneses do Vale do Bekaa, que faz fronteira com a Síria, ambos sunitas e adversários entre si, estão no centro dessas acusações. Os dois foram ouvidos pelo Estado e deram suas versões da história.

Abdul-Rahim Mourad, ex-ministro da Defesa e postulante ao cargo de primeiro-ministro, apoiado pela Síria, afirma que o deputado Jamal Jarrah está envolvido na venda aos rebeldes de 12 mil rifles de caça. “São de 15 balas, parecem metralhadoras”, descreveu Mourad, acrescentando que as armas foram entregues em Ashtura, na fronteira entre o Líbano e a Síria. Mourad aponta as ligações estreitas de Jarrah com Abdul-Halim Khaddam, vice-presidente da Síria entre 1984 e 2005, que rompeu com o regime e vive exilado em Paris.

Khaddam era muito próximo do ex-primeiro-ministro libanês Rafic Hariri, morto em 2005 num atentado atribuído à Síria e ao grupo xiita Hezbollah, patrocinado por sírios e iranianos. Jarrah é deputado pelo partido Futuro, liderado pelo primeiro-ministro em exercício Saad Hariri, filho de Rafic. Executivo do mercado financeiro, ele admite que é amigo de Khaddam e administrou suas finanças, mas nega ter fornecido armas aos rebeldes sírios.

“Não temos boas relações com a Síria, mas não a ponto de interferir nos seus assuntos internos”, disse Jarrah. “A instabilidade na Síria nos afeta. Não temos o desejo nem os meios de atuar nesse nível de inteligência militar”, continuou o deputado, cuja escolta foi duplicada pelo Exército libanês depois da acusação contra ele. “O governo da Síria está buscando razões fora do país para explicar uma revolta que na verdade é da população síria.”

Mourad admite que haja descontentamento na Síria. “Depois que assumiu, em 2000, o presidente Bashar Assad começou reformas econômicas de verdade”, lembra o dirigente do partido União, que esteve na segunda-feira em Damasco, participando de um programa de entrevistas na TV estatal síria. “O país era socialista. Ele permitiu a entrada de bancos estrangeiros e de universidades particulares.” Incluindo a de Mourad, dono da Universidade Internacional Libanesa, que recebeu autorização para construir dois campi na Síria. “Mas o povo quer mais, quer novas leis, instituições, eleições, liberdade de expressão e o fim da Mukhabarat (polícia política).”

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