Crises no Egito e na Síria são pano de fundo do acordo

Esse é o terceiro acordo entre as duas facções palestinas desde que o Hamas derrotou o Fatah na eleição parlamentar de janeiro de 2006, mas foi impedido de formar governo pelo presidente Mahmud Abbas.

BEIRUTE – Os dois anteriores fracassaram. A diferença é que dessa vez há um novo cenário nos países árabes que exercem influência mais direta sobre o conflito árabe-israelense: o Egito e a Síria.

Em março de 2007, um acordo em Meca, cidade sagrada da Arábia Saudita, formou um governo de união nacional, que se desfez violentamente em junho do mesmo ano, quando a milícia do Hamas expulsou a do Fatah de Gaza, numa guerra civil de cinco dias. Em março de 2008, novo acordo foi firmado em Sanaa, a capital do Iêmen. Durou dois dias.

Atendendo aos interesses dos Estados Unidos e de seu aliado Israel, o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak pressionava politicamente o Fatah contra uma conciliação com o Hamas. E asfixiava a Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, fechando o posto de fronteira de Rafah. Internamente, Mubarak reprimia a Irmandade Muçulmana e outros grupos fundamentalistas. Em troca, era apoiado pelos Estados Unidos, que destinam ao Egito a segunda maior ajuda militar – depois de Israel.

Mubarak caiu em meio a uma revolta popular em fevereiro, depois de 30 anos no poder, dando lugar a uma junta militar que realizará eleições em setembro, nas quais os grupos islâmicos devem ter um bom desempenho. O dirigente da junta, marechal Mohamed Tantawi, ex-ministro da Defesa de Mubarak, tem sido acusado de não se diferenciar do ex-presidente.

“O acordo contribui para a popularidade do governo egípcio”, disse ao Estado o analista político libanês Boutros Labaki. “O Hamas também tem interesse numa melhor correlação de forças com Israel. E não há horizonte para as negociações do Fatah com Israel, que mantém a expansão dos assentamentos.” Labaki conclui: “Os três saem ganhando.”

E há a Síria, que apoia ostensivamente o Hamas, cujo dirigente máximo, Khaled Meshaal, fica baseado em Damasco. Vizinha de Israel e do Líbano, a Síria é usada pelo Irã para fazer chegar sua ajuda ao Hamas e ao grupo xiita Hezbollah. Com o ditador Bashar Assad lutando pela própria sobrevivência, é natural que o Hamas busque fortalecer-se internamente, na aliança – ainda que meramente tática – com o Fatah.

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