Israel se diz disposto a estender trégua

Mas Hamas afirma que nada foi discutido nesse sentido

RAFAH, Faixa de Gaza – O governo israelense anunciou ontem sua intenção de estender a trégua de 72 horas no conflito com o Hamas, em vigor desde a manhã de terça-feira. Mas o Hamas afirmou que nada foi discutido nesse sentido, nas negociações indiretas que ocorrem no Cairo, com mediação de autoridades egípcias. O grupo está relutante em aceitar um cessar-fogo permanente sem que seja cumprida sua principal exigência: o fim do bloqueio israelense e egípcio à Faixa de Gaza.

Um funcionário israelense disse que seu país “expressou sua disposição de estender a trégua nos termos atuais”, informou a agência Reuters. Em princípio a trégua dura até as 8 horas de amanhã, hora local (2 horas em Brasília). Mussa Abu Marzuk, um representante do Hamas no Cairo, escreveu no entanto em sua conta no Twitter que “não há acordo para prolongar o cessar-fogo”.

“Só concordaremos com um cessar-fogo duradouro se o bloqueio acabar”, disse ao Estado Mustafa Barghuti, membro do Conselho Legislativo Palestino e líder do Partido Terceira Via, que ficou em segundo lugar na última eleição presidencial da Autoridade Palestina, em 2005. “Queremos a integração social da Faixa de Gaza”, acrescentou Barghuti, que ontem examinava a situação na escola da ONU atingida por um ataque israelense em Rafah, 36 km ao sul de Gaza, na fronteira com Israel e com o Egito.

“Veja a nossa situação”, disse Barghuti, baseado em Ramallah, na Cisjordânia, onde preside a Associação Palestina de Assistência Médica: “Para vir para cá, pegamos um ônibus de Ramallah a Amã, um avião de Amã ao Cairo e um ônibus do Cairo para Rafah. Levamos 24 horas quando deveria demorar 1 hora.” Se pudesse atravessar Israel, a distância entre Ramallah e Gaza é de apenas 84 km.

“Estender a calma de 72 horas para mais um período não foi discutido”, disse Sami Abu Zuhri, porta-voz do Hamas. Além do fim do bloqueio, as Brigadas Ezzeddine al-Qassam, o braço armado do Hamas, exigem também a libertação de prisioneiros palestinos em Israel. Um representante das brigadas ameaçou ontem abandonar as negociações no Cairo se essas reivindicações não fossem atendidas.

De sua parte, o general Benny Gantz, comandante das Forças Armadas israelenses, declarou à televisão: “Não hesitaremos em continuar a usar nossa força onde for necessário e com a intensidade exigida para garantir a segurança dos cidadãos israelenses perto e longe”. Depois de quase um mês de ofensiva, lançada no dia 8 de julho, com o objetivo de destruir baterias de foguetes e túneis do Hamas, as tropas terrestres se retiraram da Faixa de Gaza na terça-feira e se reagruparam do lado israelense da fronteira.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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