Cessar-fogo diminui mas não acaba com mortes

Dez generais já morreram no conflito, oito deles saindo de casa, segundo funcionário

DAMASCO – O cessar-fogo em vigor desde a manhã de quinta-feira diminuiu consideravelmente a intensidade do conflito armado na Síria, mas continua havendo mortos, tanto em combates isolados quanto em atentados a bomba.

Um general foi morto em um atentado ontem de manhã, e 16 corpos de militares saíram só do Hospital Tishrin, em Damasco, informou ao Estado o seu diretor, um general, que pediu para não ser identificado. De acordo com ativistas de oposição, um homem foi morto em um ataque do Exército em Homs, aumentando para 13 o número de mortos pelas forças leais ao regime desde a quinta-feira.

O Conselho de Segurança da ONU preparava-se ontem para votar uma resolução autorizando o envio de observadores para monitorar o cessar-fogo entre as forças leais ao presidente Bashar Assad e os rebeldes.

Homs, um dos epicentros do conflito, no centro-oeste do país, foi alvo de disparos de canhões a partir da noite de sexta-feira e durante a manhã de ontem, segundo o ativista Tarek Badrakhan, citado pela Associated Press.

“Posso ver fumaça subindo de um edifício atingido (no bairro de) Jouret el-Shayah”, afirmou o oposicionista. Ele disse que o corpo do homem morto permaneceu na rua durante várias horas, porque os disparos de morteiros e de franco-atiradores impediam as pessoas de se aproximar.

A agência oficial Sana informou que homens armados invadiram a casa do político Ismail al-Ahmad, candidato ao Parlamento nas eleições do dia 7, em Tin, no norte do país, e o levaram a um local desconhecido.

Quando o repórter do Estado estava no hospital de Tishrin, o maior hospital militar da Síria, chegou o corpo de um general, assassinado em frente à sua casa, em Adra, na periferia de Damasco. De acordo com um funcionário do governo, esse foi o décimo general morto desde o início do levante, há 13 meses. Dos 10, 8 foram mortos saindo de casa.

“Mesmo depois do cessar-fogo, continuam os ataques”, disse o general que dirige o hospital. O general não soube precisar quantos dos 16 sepultados ontem foram mortos na véspera. Ele disse que só ao hospital Tishrin tem chegado em média 15 militares mortos diariamente. Na quinta-feira foram 6, na quarta, 7 e na terça, 22. “Alguns dias chega a 30.” Além do Tishrin, que tem cerca de 1.200 leitos, há outros três hospitais militares em Damasco, além de um da polícia.

O coronel Hamid Mansur, de 48 anos, comandante de uma unidade das forças especiais, internado no Hospital Tishrin, contou que teve a perna esquerda decepada por uma pequena bomba colocada embaixo do seu carro, que explodiu quando ele saía de casa. “Fui vítima de um ataque covarde de um grupo terrorista”, definiu o coronel. Ele acredita que estava sendo seguido, e que a bomba foi detonada por controle remoto.

“Essa é a liberdade que eles querem”, ironizou o coronel. “Os desertores são muito poucos, covardes que se venderam por dinheiro”, disse ele. “Não pertencem ao Exército. São casos individuais. Não devem ser considerados desertores, mas fugitivos.”

Já o subtenente Jafar Mahmud, de 24 anos, foi atingido em uma emboscada dos rebeldes na província de Idlib, no noroeste do país, há três meses. Sua tropa era composta de 400 homens, que iam em um comboio, com a missão de liberar um quartel cercado pelos rebeldes. Quando passavam entre duas montanhas, duas bombas explodiram, uma na frente outra atrás do comboio.

“Eles eram milhares, estavam entrincheirados e começaram a disparar contra nós”, relatou o subtenente, que foi atingido na perna esquerda por uma bala explosiva e no quadril direito pelo fragmento de uma bomba, passou por cerca de dez cirurgias e sofria tremores no peito enquanto falava ao repórter. “Caíram uns 250 mártires nossos. Só se salvaram 60 feridos. Os restantes foram capturados.”

Mahmud afirma que a maioria eram civis que receberam armas de fora, mas que havia também entre eles militares turcos. “Eles têm armas sofisticadas, que nunca usamos no Exército regular”, declarou o subtenente. “A bala depois do impacto explode dentro do corpo. Havia balas que penetravam no colete a prova de balas. Outras penetram os veículos e fazem um rombo grande.” Segundo o Mahmud, “quando terminaram o ataque, eles colocaram na montanha bandeiras pretas com dizeres da Al-Qaeda”.

Os relatos dos feridos em Tishrin dão uma impressão diferente da que se tem normalmente, de uma grande desvantagem do Exército Sírio Livre frente às forças leais ao regime. O tenente Hassan Abadan, de 23 anos, conta que foi ferido na coluna por um morteiro no dia 23 no bairro de Al-Auarshi, em Homs.

“Éramos entre 30 e 35. Os armados eram quatro vezes mais que nós.” Abadan diz que sua unidade não estava apoiada por tanques. Por causa do ferimento na coluna, ele não consegue mover da cintura para baixo.

O tenente também estima que a maioria eram civis que receberam armas de fora. Tinham foguetes portáteis (RPGs), morteiros, metralhadoras e fuzis de mira, usados por franco-atiradores. “Numa missão anterior, confiscamos armas francesas, israelenses e de outros países”, contou Abadan. “Os fuzis de franco-atiradores são franceses, digitais, que o Exercito sírio ainda não tem.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*