Exército sírio reprime marcha em Banias

Ataque com tanques, lançado em bairros de maioria sunita, deixa três mulheres mortas

BEIRUTE – Os contornos sectários do conflito na Síria se acentuaram ontem, quando o Exército invadiu com tanques a cidade de Banias, na costa oeste do país, e avançou sobre três bairros habitados pela maioria sunita, preservando áreas da minoria alauíta, à qual pertence o ditador Bashar Assad. De acordo com um ativista, os soldados abriram fogo contra uma pequena passeata só de mulheres na estrada costeira que liga Banias ao povoado de Marqab, matando três delas. Além dos tanques, há disparos de artilharia pesada na cidade de 50 mil habitantes e embarcações da Marinha síria no litoral.

O Exército estaria ocupando o centro de Banias, mas forças especiais teriam sido enviadas para as áreas sunitas. “Eles estão conduzindo operações de buscas em várias áreas”, disse à agência Reuters Rami Abdul Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, com sede em Londres. “O Exército tem listas e está procurando pessoas.” As autoridades classificaram Banias de “centro do terrorismo salafista”, numa referência à corrente radical do islamismo, e afirmam que grupos armados mataram soldados perto da cidade. O mesmo tipo de acusação foi feito contra Deraa, epicentro dos protestos, no sul, antes de ser arrasado por tanques e artilharia pesada.

Os manifestantes têm procurado manter a união do movimento acima das divisões religiosas, como oposição nacional ao regime de Bashar Assad, no poder desde 2000, quando o herdou de seu pai, Hafez, que governara desde 1970. A ação seletiva em bairros sunitas parece um esforço do governo de dar uma conotação sectária à revolta. Os sunitas representam 74% dos 22 milhões de sírios; os alauítas, uma seita xiita que segue os ensinamentos de Ali, genro do Profeta Maomé, 11%; os cristãos, cerca de 10%. Muitos sunitas afirmam que os alauítas recebem tratamento privilegiado. A intenção do regime é culpar o radicalismo islâmico sem se contrapor à maioria sunita.

A entidade de direitos humanos Sawasiah já contabiliza 800 mortes desde o início dos protestos, há sete semanas. Desde sexta-feira, o serviço de 3G das duas operadoras de celular, que permite enviar imagens, está interrompido em Damasco, segundo a Sawasiah. É por meio dos celulares que têm sido disseminadas imagens impressionantes de confrontos nas ruas de várias cidades entre o Exército e manifestantes desarmados. As linhas de telefone e conexões de internet foram cortadas em Deraa e funcionam precariamente em Banias. Rami Makhlouf, primo de Assad, é dono de uma das operadoras, Syriatel.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*