ONU pode reforçar observadores militares

Secretário-geral proporá envio de aviões e helicópteros e aumento de contingente

DAMASCO – O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que proporá hoje ao Conselho de Segurança o fornecimento de aviões e helicópteros para os observadores na Síria. Ban acrescentou que já pediu as aeronaves à União Europeia. O secretário-geral avaliou também que o contingente de 250 militares para monitorar o cessar-fogo, inicialmente previsto, pode não ser suficiente “considerando a situação atual e a vastidão do país”.

A resolução aprovada no sábado autorizou um primeiro contingente de 30 militares do Departamento de Operações de Manutenção da Paz (DPKO) da ONU. Sua ampliação deve ser aprovada ainda esta semana. A equipe avançada de cinco observadores, que chegou a Damasco na noite de domingo, deve enviar hoje o seu primeiro relatório ao Conselho de Segurança. Eles estiveram ontem em Deraa, 100 km ao sul de Damasco, onde a revolta começou, em março do ano passado.

O capitão-de-mar-e-guerra brasileiro Alexandre Feitosa, um dos cinco membros da equipe, disse ao Estado que os observadores não presenciaram confrontos, mas que o governador da província de Deraa, Mohamed Khaled al-Hanous, fez um relato de incidentes envolvendo tanto disparos de armas quanto atentados a bomba, por parte dos rebeldes. Comandantes militares da província ofereceram à missão a possibilidade de montar uma base de operações lá.

“Fomos muito bem recebidos”, disse Feitosa, responsável pelo planejamento da segurança da missão. “As reuniões estão nos propiciando a visão de que vamos conseguir empreender nossas tarefas. Estamos contentes.”

A agência oficial Sana noticiou que “um grupo terrorista armado” invadiu a casa de Rami Sirani, um militar do Exército na região de Ghabaghib, na província de Deraa, e abriu fogo, matando seu cunhado.

Os observadores ainda não sabiam ontem à noite para onde seriam autorizados a ir hoje. Eles pediram acesso a Douma, 26 km a nordeste de Damasco, Homs e Hama, no centro-oeste do país. “Vamos passo a passo”, disse Feitosa. “Se amanhã não pudermos ir a Homs, iremos um outro dia.” A cidade é um dos principais cenários dos confrontos, mesmo depois do cessar-fogo, que entrou em vigor na quinta-feira.

Além de Feitosa, que pertence ao Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha brasileira, fazem parte do grupo um argentino, um marroquino, um finlandês e um belga, todos com patentes equivalentes a coronel ou tenente-coronel. Os outros 25 já começaram a chegar: um major suíço na segunda-feira e um russo e um norueguês ontem.

De acordo com o Observatório de Direitos Humanos, baseado em Londres, disparos de tanques em Busra al-Harir, reduto do Exército Sírio Livre 70 km ao sul de Damasco, mataram duas pessoas. O ativista Adel al-Omari disse que a cidade e a zona rural de Lajat estão sob intenso bombardeio desde o meio-dia de segunda-feira, levando muitos moradores a fugir para a Jordânia.

Um vídeo amador colocado no ar ontem mostra morteiros caindo em Homs em intervalos de apenas alguns segundos e fumaça cobrindo várias áreas da cidade. Tanques e canhões também foram disparados contra os bairros de Khaldiyeh e Bayada, numa aparente tentativa de tomar o controle das áreas ocupadas pelos rebeldes, segundo a Associated Press.

Outro vídeo mostra o corpo de um ativista numa rua coberta de escombros, no bairro de Bab al-Dreib. Um narrador afirma que o corpo não pôde ser recolhido durante dias por causa da ação de franco-atiradores.

O Observatório informou também que duas áreas na província de Idlib, noroeste da Síria, foram alvo de morteiros das forças leais ao regime. De acordo com o grupo, ao menos 26 pessoas foram mortas em toda a Síria na segunda-feira, quatro dias depois da entrada em vigor do cessar-fogo.

De sua parte, a agência oficial Sana noticiou que quatro membros das forças de segurança um civil foram mortos pela explosão de uma bomba  lançada contra o ônibus que transportava os agentes em Aleppo, a maior cidade do país, no norte, e que até agora tem-se mantido relativamente tranquila. O civil estava em um carro próximo. Outros nove agentes das forças de segurança e sete civis ficaram feridos, acrescentou a agência.

Outro “grupo terrorista” sequestrou o prefeito de Al-Mseifra, Hussein Shahada al-Zoubi, disse a agência. Em Qournini, na província de Idlib, o juiz Farouq Kamel Oubeid foi raptado.

Já em Talkalakh, na fronteira com o Líbano, as autoridades sírias disseram ter encontrado 25 minas terrestres e explosivos de 10 quilos, um lança-foguetes e dois fuzis de franco-atirador belgas.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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