Estilo de rua ganha status em museu londrino

Exposição no Victoria and Albert Museum faz um inventário do movimento streetstyle

LONDRES — Quando alguma coisa parece fora do lugar em Londres, estamos falando de streetstyle, a moda de rua que domina o cenário da cidade. Com a exposição Streetstyle, da Calçada à Passarela, de 1940 até Amanhã, o Victoria and Albert Museum, dedicado ao design e à decoração, faz um inventário do movimento, na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Logo na entrada, vídeos mostram performances dos streetstylers das mais diversas subculturas, que deram “assessoria” ao sóbrio museu. 

Streetstyle é um termo genérico para diferentes formas de se vestir, identificando grupos de jovens que compartilham ideologias, estilos de vida e gostos musicais. Esses grupos costumam ter um hábitat, que pode ser um bar, uma danceteria ou clube, uma loja de discos, de livros ou de roupas. No cenário londrino, a moda de rua está intimamente ligada à idéia de hang out, ou seja, fazer ponto. 

A moda de rua tem sido uma importante fonte de inspiração dos costureiros da alta moda. A exposição usa roupas autênticas e cópias, vestidas em manequins de loja. E reúne também muitas fotos em tamanho natural. Começa com o Western Revival nos Estados Unidos, logo depois da Segunda Guerra. Chapéu, laço no pescoço, camisa, calça, cinto e bota texanos. E, no início dos anos 50, com os beats, beatniks e existencialistas. Para as mulheres, collant, saia longa de malha, meia e sapatilha de balé, tudo preto. 

Ainda na década de 50, no Reino Unido, há o ton-up boy, o motoqueiro com suas botas e jaquetas de couro. As jaquetas, aliás, tem uma seqüência à parte, as rocker jackets, que vão dos anos 40 até hoje. 

Na primeira metade dos anos 60, a cena é dominada pelo mod, visual elegante, de blazer e camisa de tricô. Uma boina de lã dá um ar progressista, vinculado aos movimentos de esquerda na Europa. Nos homens, o cabelo ainda tem aquele penteado de colégio, partido de lado, mas está ligeiramente longo, como o dos Beatles na época. 

Em seguida vêm os hippies, com batas de algodão, estampas de flores, e dá-lhe tricô e bordados. Ainda do início da década de 70, a exposição traz uns vestidos do estilo catwalk psychedelic (psicodélico de passarela): tecidos fosforescentes, amarelo-limão e rosa-choque, com lantejoulas laranja 

Londres, 1972. As rápidas transformações na moda culminam na revolução unissex. Entre os precursores, David Bowie. Roupas coladas, paletós extravagantes, coloridíssimos. Também jaquetas cinzas e calças de malha preta, meio espaciais, com botas de couro. O futurismo e o estilo impecável são a reação ao hippie. Entre 1972 e 1976, aparecem os soul boys e soul girls, casual wear com calças de vinco, laços de fita no pescoço, cintinhos de couro e elástico e sandálias de plástico. 

Curiosamente, muitos integrantes da cena soul inaugurariam o movimento punk Eles começaram usando calças de plástico, cordões de amarrar saco de lixo e malhas de jogging. Ferveram entre 1976 e o início dos anos 80. Mas até hoje em Londres são comuns rapazes e moças de cabelos coloridos, máscara branca no rosto, com jaquetas, calças e botas de couro. Mas tão comportados quanto qualquer colegial. 

Uma seção da exposição se dedica à moda negra. O estilo rastafári — turbantes, saias e batas de algodão com motivos africanos — surgiu no início dos anos 70 e é comum até hoje. Foi celebrizado por Bob Marley. Inclui jaquetas militares de camuflagem, segundo o Victoria and Albert Museum, para indicar apoio aos soldados cubanos em Angola. 

Na segunda meta de dos anos 80, em Londres, a cena foi dominada pelos freqüentadores de danceteria, consumidores de ácidos e outras drogas para manter os clubbers ligados na batida do tecno-pop. Chamado de acid rave, esse estilo ficou marcado pelo desenho de uma carinha redonda sorrindo, estampada em camisetas de malha. 

Os anos 90 se caracterizam pela mistura e o revival de tudo isso. A face radical deste fenômeno é a chamada reunião das tribos, que resulta num visual meio mendigo. São roupas usadas e reusadas, compradas em brechós. O lado mais comercial é o que a exposição chama de supermercado de estilos, uma mistura do que se pode comprar em lojas de departamento e feiras de artesanato. 

Mas há algumas particularidades. Entre elas, o estilo gay. Para os homens, chapéu, camisa xadrez de algodão, colete de couro, calça jeans e sapato de couro marrom. Na passarela, um collant roxo com tubos de pano em forma de camisinha na altura do pênis e dos “seios”. Para as lésbicas, sutiã de náilon grosso, cuecão Calvin Klein, blusa e calça jeans, tênis e boné de beisebol virado ao contrário. 

A exposição termina com o cyberpunk, punk cibernético que utiliza os mais diversos materiais sintéticos. Pedro Almodóvar e Jean-Paul Gaultier doaram para o museu a indumentária de Andrea “Scarface” Caracortada, personagem de Victoria Abril no filme Kika: capacete de metal com óculos de moto e câmera de vídeo embutida, macacão verde, cinturão de utensílios e, no lugar dos seios, lanternas protegidas por grades. No Victoria and Albert, Streetstyle fica até dia 19. Nas ruas de Londres, a exposição é permanente. 

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