Desafio: estender as qualidades do ensino no interior para a capital

Secretário municipal explica como pretende aplicar algumas das virtudes em prática no interior em toda as escolas da cidade

A Prova Brasil, o exame realizado em toda a rede pública do País pelo Ministério da Educação, e divulgado há uma semana, confirmou algo que já se percebia: as escolas públicas do interior têm, em média, desempenho melhor que as de cidades grandes. Elas reúnem ingredientes como baixa rotatividade de diretores e professores, participação da comunidade e salários que dão maior poder de compra e atraem profissionais melhores.

Na rede municipal da cidade de São Paulo, há escolas boas e ruins. As boas costumam contar com pelo menos parte desses ingredientes. Em entrevista ao Estado, o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, explica como pretende estender algumas dessas virtudes para toda a rede da cidade. Entre as prioridades, Schneider, de 36 anos, formado em administração pela Fundação Getulio Vargas, enumera acabar com os três turnos diurnos, melhorar os salários dos professores , livrar os diretores de escolas de tarefas dissociadas do ensino e consolidar o programa de reforço em leitura e escrita.

Seria possível estender as virtudes das boas escolas do interior para as da capital, ou é uma dinâmica totalmente diferente e a abordagem é outra?

Lógico que tem similaridades. Existem escolas como a Amorim Lima, no Butantã, em que a diretora está lá há dez anos. Tem um projeto. É uma escola que funciona em dois turnos, é organizada, está numa região que tem uma universidade próxima (a USP), uma série de organizações (comunitárias), o que possibilita uma interação, num bairro com estrutura, com crianças que têm uma vida mais estável. Acho que tudo isso ajuda a ter resultados melhores que os de outras escolas que a gente tem na rede, que têm muitas dificuldades. Das nossas 459 escolas de ensino fundamental, 309 operam em três turnos diurnos, e justamente na periferia, em regiões onde não há redes (locais) formadas, e onde os pais têm mais dificuldades de participar do dia-a-dia da escola. Então, esses ingredientes não se verificam nessas escolas. Além disso, tem uma coisa que vale para a rede inteira, que é um histórico da administração, que levou para a escola uma série de atribuições que não são as de ensinar.

Quais?

Hoje, um diretor de escola se preocupa com entrega do leite, do uniforme escolar, de tênis, organização do transporte escolar, cadastramento nos programas sociais do município, do Estado e do governo federal. Isso tira o diretor do foco principal dele que é saber se as crianças estão ou não aprendendo. Estamos tomando algumas medidas para desonerar o diretor – e muitas vezes até o professor. Estamos falando com os sindicatos, e a idéia é que a gente ou crie essa função dentro da escola, para cuidar disso, ou que a gente tire da escola essas funções, que talvez seja o caminho mais adequado. As subprefeituras podem distribuir uniformes. A gente veste uma cidade média paulista: são 1 milhão de peças. Então, o seu diagnóstico está correto. É natural que nas cidades menores a gente tenha um melhor desempenho porque a comunidade está mais próxima da escola. Muitas vezes, o professor dá aula para o filho de um conhecido, há um controle social, e o salário não é ruim para a realidade local.

Dá para melhorar o salário?

Estamos trabalhando para melhorar o salário, apertando a execução do orçamento deste ano. Para melhorar o salário, é preciso ter dinheiro. É o que a gente está buscando. Ainda não tem um horizonte de prazo.

Não dá para mexer na estrutura de gastos?

Estamos mexendo. É onde a gente alcança. Temos 50 mil profissionais. A educação significa para o município 50% do funcionalismo inteiro. Enquanto a escola assumiu aquelas funções sociais, a gestão pedagógica foi deixada de lado. Os papéis foram invertidos. O currículo ficava a cargo de cada escola. Cada um dava o que queria. Isso, desde o ano passado, começou a mudar. No primeiro semestre do ano passado, fizemos um diagnóstico; no segundo semestre, planejamento; e em fevereiro deste ano lançamos o Programa de Desenvolvimento de Competência Leitora e Escritora, aplicado a todas as disciplinas. Nossa própria equipe, juntamente com os coordenadores pedagógicos das melhores escolas da rede, está criando um material didático próprio, em apostilas, que dá uma idéia para o professor de como organizar todas as atividades.

Faz sentido manter o programa de CEUs (Centros Educacionais Unificados), de escolas-modelo, diante dessa realidade emergencial, em que a maioria das escolas funciona com três turnos diurnos?

Faz sentido, se a gente conseguir acabar com os três turnos, e é isso que a gente vai fazer até 2008. O CEU não é só escola-modelo. É um local que está aberto mais do que para os alunos, também para a comunidade, seus pais, o entorno. E estão em locais onde não tem isso. O melhor equipamento, ou o único, é o CEU. Isso é importante.

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