‘Inovação viral’ muda conceito de telefonia

Idéia é usar celulares para transmissão, eliminando necessidade de torres.

CAMPINAS – Eles estiveram metidos em alguns dos experimentos que desaguaram na atual disposição gráfica da internet, nas linguagens multimídia, no vídeo digital e no livro eletrônico, entre muitas outras inovações que reconfiguraram nosso modo de vida. Agora, no forno do Media Laboratory do Massachusetts Institute of Technology, está fermentando mais uma idéia demoníaca: “inovação viral”.

Inpirados no sistema de colaboração que existe entre os vírus, os cientistas do Media Lab estão desenvolvendo uma tecnologia para que os telefones celulares se ajudem mutuamente na transmissão e recepção de ligações.

Segundo eles, o atual sistema de telefonia é caro porque cada aparelho tem de enviar seu sinal para uma torre, mais ou menos distante, que por sua vez o reenviará a outro aparelho, implicando grande dispêndio de energia. Além disso, a capacidade da torre é limitada, e os celulares disputam entre si espaço na rede.

É só por isso, dizem eles, que a maioria dos equipamentos ainda não está dotada de transmissor e receptor de dados. Por exemplo: uma máquina de venda de refrigerante não se comunica com o fornecedor quando o produto está acabando ou com o banco do usuário que queira pagar com cartão de débito não por falta de tecnologia, mas porque a chamada de telefone celular custa caro demais.

Todo aparelho celular já é um transmissor e receptor. Então, a idéia é fazer com que o celular mais próximo ajude na transmissão, saltando de aparelho em aparelho até chegar ao destinatário. Como num estádio de futebol, em que, em vez de gritar para o pipoqueiro e fazê-lo vir, o torcedor manda o dinheiro de mão em mão, com a ajuda dos outros torcedores sentados, e recebe a pipoca da mesma maneira. Com isso, em vez de disputar espaço, os celulares somarão esforços. Quanto mais celulares num local, maior a capacidade de transmissão. O custo das chamadas despencaria.

“Nosso desafio é transferir a transmissão das torres para os aparelhos que todos têm no bolso”, explicou o engenheiro eletrônico Andrew Lippman, que está à frente do projeto no Media Lab, durante evento sobre educação e inovação patrocinado pela Fundação Bradesco, em Campinas. Lippman faz uma analogia com a TV digital, que ele também ajudou a criar: “Em vez de o centro estar no transmissor, passou a estar em cada aparelho de televisão.”

Obstáculos – De acordo com Lippman, boa parte dos obstáculos técnicos já foi superada. Por exemplo, o que se referia ao tempo gasto na decodificação e codificação da mensagem, em cada receptor-transmissor. Mas ainda há coisas por definir, como as regras da cooperação entre os aparelhos da rede. Os donos dos celulares que forem usados como pontes na passagem da mensagem terão um custo com isso. É mais caro receber e transmitir mensagens do que ficar em stand-by.

Para o diretor do Media Lab, Walter Bender, a atual regulação do setor de comunicações na maioria dos países não impede o uso dessa tecnologia. No caso dos Estados Unidos, dependerá de quais freqüências serão usadas.

“Fundamentalmente, não há nada de ilegal nisso, nos EUA”, disse ele. “Nos países onde há monopólio de companhias telefônicas, a questão é saber se essa tecnologia viola o monopólio. Mas há muitas outras ameaças de curto prazo a esse monopólio, como a Voice Over Internet Protocol”, ponderou Bender, referindo-se ao uso da rede para realizar chamadas telefônicas.

“A inovação viral é uma verdadeira ruptura, num sentido muito positivo”, analisa Bender. “Não creio que vá substituir a atual infra-estrutura de telefonia, mas coexistir com ela. As telecomunicações se tornarão muito mais amplas e ricas, para muito mais gente e muito mais aplicações do que a atual infra-estrutura suporta, tanto em termos técnicos quanto de modelo econômico.”

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