Otan tenta formar barreira contra integrismo

Aliança atlântica anuncia plano de cooperação com Egito, Israel, Marrocos, Tunísia e Mauritânia, visando à formação de uma barreira mediterrânea contra a ameaça do fundamentalismo muçulmano.

LONDRES – Preocupada com a instabilidade no seu quinta, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou ontem um plano de integração com cinco países do Norte da África e Oriente Médio.

O objetivo é formar uma barragem no Mediterrâneo contra o fundamentalismo islâmico. A aliança de defesa ocidental vai iniciar um “diálogo” com Egito, Israel, Marrocos, Tunísia e Mauritânia.

Mas já há medidas bastante concretas na agenda da Otan. Segundo fontes da aliança, ela planeja medidas contra o contrabando de material nuclear da antiga URSS para regimes instáveis ou “hostis”. Os militares da aliança também estão criando outro sistema de mísseis para proteger os países membros de ataques terroristas.

Em entrevista publicada ontem pelo jornal britânico The Independent, o secretário-geral da Otan, Willy Claes, enfatizou que a ameaça do fundamentalismo é um dos mais importantes desafios para o Ocidente depois do fim da guerra fria. “Não devemos subestimar o risco do fundamentalismo”, disse Claes, ressalvando no entanto que a Otan não deseja um confronto direto.

Em nome da cautela, a Argélia foi calculadamente excluída da lista dos países-alvo da aproximação da Otan. Fontes da Otan disseram que a aliança não quer dar a impressão de estar tomando o partido do regime argelino, que está virtualmente em guerra civil com os militantes fundamentalistas.

Ao anunciar o plano ontem em Bruxelas, o embaixador da Espanha na Otan, Carlos Miranda, demonstrou a preocupação da aliança: “Esta não é de maneira nenhuma uma iniciativa de confronto, temos de cuidar da instabilidade e da segurança em torno de nós.” Depois de cinco anos de concentração de esforços no Leste Europeu, a Espanha, França e Itália (os países mais expostos ao Mediterrâneo) têm pressionado para que a Otan preste mais atenção no flanco sul.

Inicialmente, a atividade se restringirá a consultas regulares entre os governos. Mas as portas estarão abertas para uma cooperação militar mais estreita. Extra-oficialmente, fontes da Otan admitem que o esquema pode desembocar numa versão mediterrânea da Parceria para a Paz, o sistema de cooperação com os órfãos do Pacto de Vasóvia.

Os países do continente têm razões geográficas – com implicações militares e de fluxo de imigração – para se preocupar com o fundamentalismo. A Grã-Bretanha tem razões políticas. Londres, maior capital da Europa, com o maior aeroporto do mundo, e grande centro financeiro e de comunicaçõs, é o sonho de todo militante dissidente. Os britânicos têm uma tradição de fornecer asilo e liberdade de atuação para quem tem problemas com o próprio pais. Hoje Londres se configura como a capital ocidental do fundamentalismo islâmico.

“Na França, se você quer criar um boletim, precisa de permissão”, compara o dissidente saudita Mohammed al-Masari. “Há muito mais restrições às atividades políticas e culturais na França do que na Grã-Bretanha. ” Al-Masari ficou famoso por ter criado um jornal via fax. De sua casa, martela todo o mundo muçulmano com sua mensagem fundamentalista.

Há pelo menos 160 mil exilados iraquianos em Londres. “A mais importante amostra da sociedade iraquiana está no momento na Grã-Bretanha”, diz Leith Qubba, da fundação assistencial xiita Al-Khoei.

 

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