A saga de Maria para saber o que tem

seis meses, ‘caroço’ no pescoço leva faxineira de um lado para outro, em busca de um exame

Faz três anos que a diarista Maria dos Anjos Amorim de Souza notou que crescia um “caroço” do lado esquerdo de seu pescoço. Foi ao Hospital do Servidor Público Estadual, retiraram um líquido do local, fizeram exame e a tranqüilizaram: “Não tem nada.” Ela continuou com tontura, nervosismo e taquicardia: “Não posso mais sentir alegria nem tristeza que o coração dispara e tenho que me sentar”, diz Maria, de 34 anos.

Em janeiro, ela aproveitou as férias em Cuité, sua cidade natal, de 20 mil habitantes, na Paraíba, para passar com o cirurgião geral Jaime da Costa Pereira Filho. O médico lhe explicou que isso não era normal. Pediu exames dos hormônios da tireóide, que resultaram normais. “É preciso retirar o tumor e fazer um exame anátomo-patológico para saber a sua origem, não só por razões estéticas, mas porque pode ser maligno”, disse o médico ao Estado pelo telefone. “Se ela morasse aqui, já teríamos resolvido o problema.”

De volta a São Paulo, Maria dos Anjos foi procurar ajuda. A professora de filosofia Sanny Silva da Rosa, em cuja casa ela faz faxina, tentou o Hospital das Clínicas. Informaram que era preciso, além de RG, CPF, que Maria dos Anjos não tem. No Hospital São Paulo, disseram que o caso dela não podia ser atendido pelo SUS.

Enquanto isso, Maria conseguiu marcar consulta na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro para o dia 15 de maio. Mas o médico que a atendeu disse que lá não se faziam exames, e recomendou que ela procurasse o posto de saúde de seu bairro, Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Na saída do hospital, uma funcionária a quem ela pediu orientação escreveu no verso da guia de encaminhamento a sigla SADT. Até hoje, Maria dos Anjos não sabe o que é isso.

“Significa Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico”, traduz o secretário da Saúde do Estado de São Paulo, Luiz Roberto Barradas Barata. “Não tinham nada que escrever isso no papel, mas orientá-la sobre o que fazer.”

Maria dos Anjos foi no mesmo dia ao posto de saúde de Paraisópolis e marcou consulta para o dia 18 de junho. O clínico geral Humberto Negri Avallone Júnior a encaminhou para fazer exames no Hospital do Campo Limpo. No próprio posto de saúde, uma funcionária marcou, para ela, uma consulta no hospital no dia 18 de julho. Avallone, que atende em média 16 pacientes no posto de saúde, de manhã, e um total de 70 por dia, somando outros dois consultórios, não se lembra do caso. “Precisaria olhar o prontuário”, disse o clínico geral, contatado noutro consultório.

Seis meses depois de voltar da Paraíba, Maria dos Anjos ainda não sabe o que tem: “Se for doença que a gente está para ir mesmo…”

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