Briga comercial dá impulso a acusações

Até um indiano que disputava marca com comerciante foi preso por terrorismo

 

CIUDAD DEL ESTE – Foi num julgamento em um tribunal de Assunção que Ali Ahmad Zaioun se meteu no assunto pela primeira vez publicamente. “A sra. vai dar ganho de causa a um terrorista?”, teria perguntado à juíza, que parecia propensa a aceitar a denúncia de outro comerciante, Assaad Ahmad Barakat, de que ele teria falsificado jogos eletrônicos da marca Brick Game.

Chegava ao auge a disputa entre os dois pela exclusividade da distribuição da cobiçada marca. Ambos dizem que tinham acordo com um sócio na China e registro no Paraguai para ser o único distribuidor de Brick Game. Um acusa o outro de comercializar a versão falsificada do produto e de ter forjado laudo atestando que o seu era o original. Além disso, noutra pendência, Barakat vendeu a Zaioun um apartamento por US$ 120 mil no Líbano, e não lhe passou a escritura.

Zaioun tem reputação de ser informante da Secretaria de Prevenção e Investigação do Terrorismo, cultivando fortes laços com seu assessor de inteligência. Ambos negam qualquer relação entre as disputas comerciais de Zaioun e a perseguição a Barakat. “Quando foi emitida a ordem de captura a Barakat, em 2002, já havia dez anos de investigação contra ele”, diz o assessor.

Antes do incidente no tribunal, ocorrido em 2001, Barakat já era investigado por ligações com o Hezbollah, no rastro dos atentados de 1992 e 1994 em Buenos Aires. Finalmente, no dia 5 de outubro daquele ano, os agentes antiterrorismo de Assunção, acompanhados do procurador Carlos Cálcena, deram busca em seu escritório na Galeria Pagé de Ciudad del Este.

Barakat já não pisava no Paraguai desde os atentados de 11 de setembro, que, segundo comerciantes e advogados da região, deram novo ímpeto às ações dos agentes e procuradores antiterrorismo. Nesse período, segundo várias fontes que pedem anonimato e não oferecem provas, os investigadores e procuradores extorquiram milhares de dólares dos comerciantes para não enquadrá-los como membros do Hezbollah.

Barakat não é o único concorrente direto de Zaioun que acabou denunciado por terrorismo. No dia 25 de julho, uma mulher, com sotaque brasileiro, entregou uma valise na casa do comerciante indiano Haresh Jamnadas Chandnani em Ciudad del Este.

Cinco minutos depois, a procuradora de delitos econômicos Basiliza Vazquez chegou, acompanhada de investigadores. Na busca, além da valise, carregada de explosivos, a procuradora encontrou, sobre a cama de Chandnani, fotos de armas com a aparência de terem sido baixadas da internet e uma suposta encomenda de armamentos, amadoristicamente redigida.

Chadnani e três empregados ficaram presos durante dois meses. Agora estão sob liberdade condicional. O comerciante indiano contou ter-se recusado a vender a Zaioun a exclusividade sobre a marca Livstar, que faz uma calculadora muito popular na região.

Basiliza Vazquez é investigada pelo próprio Ministério Público paraguaio por enriquecimento ilícito. “Não conheço Zaioun e esse caso não teve influência dele”, garantiu a promotora ao Estado. Ela preferiu não comentar a acusação de enriquecimento ilícito: “Já apresentei toda a documentação concernente.”

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