Sharon respira, move mão e perna

Segundo médico, são sinais de que o tronco cerebral está funcionando; mas estado ainda é crítico

JERUSALÉM – O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, de 77 anos, começou ontem a respirar espontaneamente e moveu a mão e a perna direitas, ao sair do coma induzido a que estava submetido desde a noite de quarta-feira, quando sofreu um derrame cerebral. Os ligeiros movimentos foram uma resposta a estímulos de dor provocados pelos médicos. Sua pressão sanguínea também subiu levemente, como resultado da diminuição dos medicamentos.

“São sinais muito positivos, porque significam que o tronco cerebral dele está funcionando”, disse o diretor do Hospital Hadassah, Shlomo Mor-Yosef, em briefing aos jornalistas às 17h em Jerusalém (13h em Brasília). O tronco cerebral, que divide os dois hemisférios do cérebro, é o responsável pela capacidade cognitiva e pelos movimentos voluntários. Quando ele pára de funcionar, a vida se torna vegetativa.

Os médicos começaram a reduzir a dose de anestesia em Sharon por volta das 10h, depois de exames confirmarem que seu cérebro estava bem drenado da hemorragia ocorrida na quarta-feira e a pressão cerebral estava normal. Imediatamente, segundo o diretor do hospital, Sharon começou a respirar espontaneamente, embora continuasse conectado a aparelhos, e seguiu assim por cerca de sete horas, pelo menos até o briefing. “O estado dele ainda é grave e crítico”, fez questão de ressaltar Mor-Yosef, como sempre faz nos seus briefings diários.

De acordo com o médico, o plano era continuar a reduzir a dosagem de anastésicos nas 24 horas seguintes, e avaliar as reações de Sharon a estímulos. O chefe do Departamento de Neurocirurgia do hospital, Félix Umansky, que participou do briefing, recusou-se a especular sobre a extensão do dano causado pelo derrame ao cérebro e a prever como Sharon voltará do coma (ver ao lado). Nem antecipou em quanto tempo se terão essas respostas.

Umansky disse que a equipe não esperava mais do que o resultado que vem sendo obtido: “Não é um paciente jovem. Ficou sob quatro dias de anestesia. Passou por três operações difíceis. Nessas condições, o quadro é positivo.” Segundo ele, se os sinais continuarem nessa direção, indicarão que Sharon poderá viver “por conta própria”, ou seja, sem o auxílio de aparelhos. À pergunta sobre as porcentagens de chances do primeiro-ministro, Umansky respondeu: “Não trabalhamos com porcentagens, mas com realidade.”

Sharon foi substituído interinamente por seu vice, Ehud Olmert, de 60 anos, que acumula o cargo de ministro das Finanças. Uma vez confirmada a saída de Sharon da cena política, o que é considerado certo em Israel, Olmert parece o mais cotado para liderar o partido Kadima (Adiante).

Criado por Sharon em novembro, depois das resistências de seu partido, Likud, à retirada israelense da Faixa de Gaza, o Kadima reúne dissidentes da agremiação de direita e do Partido Trabalhista, liderados pelo ex-primeiro-ministro Shimon Peres, de 82 anos. Segundo pesquisas realizadas depois do derrame de Sharon, o Kadima deve ser o mais bem votado nas eleições parlamentares de 28 de março, obtendo um terço das 120 cadeiras da Knesset.

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