Sanções e pressões asfixiam governo de Maduro

Juan Guaidó participa de manifestação em Caracas ao lado da mulher, Fabiana, e de Lilian Tintori (E), mulher de Leopoldo López, seu padrinho político Foto: AP Photo/Fernando Llano

Os EUA testam uma nova técnica de pressão por mudança de regime: desviar os pagamentos do petróleo venezuelano do governo de facto de Nicolás Maduro para o de direito de Juan Guaidó.

Nos próximos seis meses, as refinarias americanas vão gradualmente deixar de pagar pelo petróleo venezuelano à estatal PDVSA. Depositarão os pagamentos numa conta do Tesouro americano, que tentará fazer o dinheiro chegar até Guaidó.

Os EUA são o destino de 42% do petróleo venezuelano. Ao preço atual, US$ 60 o barril, e com a Venezuela produzindo 1,1 milhão de barris por dia, as importações americanas renderiam cerca de US$ 11 bilhões este ano. Mais do que as reservas declaradas do Banco Central da Venezuela (BCV): US$ 8,4 bilhões.

Além dos EUA, para o tipo de petróleo pesado venezuelano existem refinarias em outros três países: China, Rússia e Índia. China e Rússia não pagam: depois de lhe emprestar US$ 50 bilhões e US$ 17 bilhões, respectivamente, as duas só abatem a dívida.

Mesmo que a Índia quisesse comprar essa briga com os EUA, a maior parte do petróleo que importa da Venezuela é por meio da russa Rosneft, que por sua vez também abate a dívida.

Entre quarta e sexta-feira, acumularam-se 25 petroleiros nos portos venezuelanos, contendo 18 milhões de barris. A PDVSA não autorizou a saída, para evitar o não-pagamento.

A Venezuela não tem refinarias. Sua gasolina e outros derivados provêm dos EUA. As poucas luzes ainda acesas em Caracas devem isso ao querosene americano.

Produtos que precisam ser misturados ao petróleo para seu transporte, por meio de oleoduto, da Bacia do Orinoco até os portos venezuelanos, não serão mais fornecidos pelos EUA. Isso compromete parte da exportação.

Diversos portos venezuelanos não têm calado para os super-petroleiros destinados à Ásia. O óleo é levado em cargueiros menores para países das Antilhas Ocidentais, de onde embarca para a Ásia. Essas ilhas são suscetíveis às pressões americanas e europeias.

O Parlamento Europeu exortou os membros da União Europeia a reconhecer o governo de Guaidó. Espanha, França e Alemanha deram ultimato para o regime convocar eleições presidenciais livres até amanhã. Caso contrário, reconhecerão Guaidó. O Reino Unido já o fez.

Os 2 mil generais venezuelanos, que trocam seu apoio ao regime pelo controle da venda do petróleo e do ouro e das importações e distribuição dos bens de primeira necessidade, sabem de tudo isso.

Eles avaliam, de um lado, a sustentabilidade financeira do regime; de outro, o alcance da lei de anistia aprovada pela Assembleia Nacional, controlada pela oposição. A lei exclui “crimes contra a humanidade” — um conceito amplo, que abarca a morte de centenas de manifestantes e a tortura de dezenas de presos.

Os chavistas tentam escapar da asfixia vendendo o ouro que resta no BCV. Uma fonte anônima disse à agência Bloomberg que 20 toneladas em barras, no valor de US$ 840 milhões, foram pesadas e separadas. Mas o governo desistiu do negócio, por ora. O destino seriam os Emirados Árabes Unidos (EAU). O pagamento seria em euros, em dinheiro vivo.

O jornal russo Novaya Gazeta noticiou que um cargueiro Boeing 757 foi enviado duas vezes para levar essa carga. Registros de voos confirmam a ida do avião na quarta-feira, fazendo a rota Vnukovo (aeroporto ao sul de Moscou)—Dubai—Cabo Verde—Caracas. Os EAU também são suscetíveis a pressões americanas.

Um Boeing 777, da companhia russa Nordwind Airlines, parecia destinado a levar Maduro e seus cúmplices para o exílio, mas eles não embarcaram.

Isso se tornou uma briga de gato e rato.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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