Forças argelinas invadem instalação de gás para libertar reféns

Segundo fontes, 30 reféns e 11 combatentes islâmicos teriam sido mortos na ação

BAMAKO – Forças especiais do Exército argelino atacaram ontem a instalação de gás da BP onde trabalhadores estrangeiros e locais eram mantidos como reféns por militantes islâmicos desde a manhã de quarta-feira. De acordo com fontes de segurança ouvidas pela agência Reuters, 30 reféns – dos quais ao menos 7 estrangeiros – e 11 combatentes islâmicos foram mortos na ação.  Dentre os mortos estariam dois japoneses, dois britânicos e um francês.

O ministro das Comunicações da Argélia, Mohamed Said, informou, enquanto a operação ainda estava em andamento, que 40 argelinos e 3 estrangeiros haviam sido libertados. Uma fonte da área de segurança havia dito mais cedo que 25 reféns estrangeiros escaparam. Os cerca de 600 funcionários argelinos que também eram mantidos em cativeiro aproveitaram a vigilância menos estreita sobre eles – o foco dos sequestradores eram os estrangeiros – e também fugiram.

A ação das forças argelinas, iniciada por volta de meio-dia (10 horas em Brasília) surpreendeu e irritou os governos dos países cujos cidadãos eram mantidos reféns, que não foram informados da decisão. Dentre eles havia também americanos, noruegueses, romenos e um austríaco. “Quando o grupo terrorista insistiu em deixar a instalação levando os reféns estrangeiros com eles para países vizinhos, foi dada a ordem para unidades especiais atacarem a posição na qual eles estavam entrincheirados”, justificou o ministro das Comunicações.

Um dos argelinos que conseguiram escapar, identificado como Abdelkader, de 53 anos, disse à Reuters que o sequestradores pareciam conhecer bem as instalações da BP e que usavam o vocabulário normalmente empregado por radicais islâmicos. “Os terroristas nos disseram logo no começo que não machucariam os muçulmanos e que só estavam interessados nos cristãos e infiéis”, disse a testemunha, de volta a sua casa na cidade de In Amenas, que fica próxima do complexo de gás. “ ’Nós vamos mata-los’, eles disseram”, contou Abdelkader. Os sequestradores afirmaram pertencer ao até então desconhecido Batalhão de Sangue.

A ação foi uma retaliação pelo fato de a Argélia ter aberto o seu espaço aéreo para os aviões franceses, que bombardeiam desde o fim de semana posições dos rebeldes islâmicos no norte e centro do Mali. O Exército argelino também fechou a fronteira com o seu vizinho do sul, dificultando a movimentação dos combatentes islâmicos. A ação dos terroristas preocupa a Argélia, que tem uma fronteira de 1.376 km com o Mali, e grande quantidade de campos de petróleo e gás na região desértica.

O primeiro contingente de 45 soldados do Togo desembarcou ontem no aeroporto de Bamako, e era esperada para mais tarde chegada de outros 180 nigerianos. Eles farão parte de uma missão de milhares de soldados dos países da África Ocidental, que vêm defender o Estado do Mali contra o levante dos grupos islâmicos, parte deles ligada à Al-Qaeda do Magreb Islâmico. O Chade anunciou ontem que enviará 2 mil soldados. O Togo se comprometeu a mandar um total de 733 homens e a Nigéria, que deve comandar a missão, pelo menos 900.

“Estamos orgulhosos da participação do Togo e confiamos nesse batalhão”, disse um major francês que foi recebê-los, e que se identificou apenas como Eric. “Durante três semanas, eles serão treinados para combater ‘a la francesa’ e também para a coordenação com as tropas dos outros países.”

Tropas francesas e malienses estão concentradas em Noino, a 45 km de Dabaly, a cidade ocupada na segunda-feira pelos combatentes islâmicos, em meio aos bombardeios da França. O prefeito de Diabaly, Omar Diakite, disse ontem à noite ao Estado que, ao contrário do que fora informado na véspera, as tropas francesas ainda não haviam entrado em combate com os militantes islâmicos na cidade de 15 mil habitantes, situada 400 km ao norte de Bamako. Diakite fugiu de Diabaly para Bamako na segunda-feira, horas antes da chegada dos invasores, e disse que iria hoje para Niono com sua mulher e o filho mais velho, de 14 anos. Seus pais e três filhos menores estão trancados em casa em Diabaly.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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