A América em movimento

Ainda que não se eleja na terça-feira, Barack Obama já terá feito história. Não só como o primeiro negro com chance de tornar-se presidente dos EUA.

PHOENIX – Em meio a uma crise econômica causada por problemas de regulação e controle, o êxito da candidatura de Obama parece assinalar o fim do ciclo iniciado com a eleição de Ronald Reagan, em 1980, seguida pela onda de desregulamentação.

De um lado, o fenômeno Obama reflete mudanças demográficas. Profissionais de alta escolaridade estão deixando as costas Leste e Oeste em busca de melhores salários, menos impostos e educação mais barata para seus filhos. Esse fluxo transfigura antigos redutos conservadores. O crescimento econômico dessas regiões – incluindo o Arizona, de John McCain, que atrai empresas de alta tecnologia com incentivos – traz consigo imigrantes latinos que se empregam no setor de serviços.

Ambos os grupos tendem mais a votar nos democratas, analisa John Garcia, cientista político da Universidade do Arizona. No sistema americano de eleição presidencial por colégio eleitoral, essas mudanças podem ter impacto político decisivo. Na Flórida, uma nova geração de cubanos-americanos se inclina a favor de uma mudança na política dos EUA para Cuba.

Junte-se a isso o fato de que os republicanos têm perdido suas bandeiras: a do partido do imposto baixo, com o rombo orçamentário causado pelo governo Bush e com a promessa de Obama de diminuir os tributos de 95% das famílias americanas; a do domínio sobre temas de segurança nacional, com o desastre do Iraque; a da competência gerencial, com a tragédia do Furacão Katrina, em 2005. “É mais um ‘não’ aos republicanos que um ‘sim’ aos democratas”, avalia Harwood McClerking, cientista político da Universidade de Ohio.

Afinal, os EUA estão se tornando menos conservadores e mais liberais (no sentido americano)? O Estado percorreu o país, em busca de respostas. Elas são múltiplas, numa América diversa, e em movimento.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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