A uma semana da eleição, Obama e McCain disputam Ohio

Candidatos fazem campanha no Estado que deu a Bush a reeleição há quatro anos

CANTON, EUA – A uma semana da eleição presidencial, os candidatos democrata e republicano estiveram ontem a apenas 100 km um do outro. Realçando a disputa dramática pelos votos dos Estados indefinidos, Barack Obama e John McCain realizaram campanha ontem simultaneamente em Ohio. Nenhum presidente republicano foi eleito nas últimas décadas sem ganhar em Ohio, um antigo reduto conservador, com 20 dos 538 votos do colégio eleitoral. Obama lidera no Estado por 50% a 46%, de acordo com a média das pesquisas, calculada pela CNN.

No que os assessores de Obama classificaram como “os argumentos finais” da campanha, o senador democrata lotou ontem o Civic Memorial Center, um ginásio com capacidade para 5 mil pessoas em Canton. Na mesma cidade, o ex-presidente democrata John Kennedy, com quem Obama procura identificar-se, realizou um de seus últimos comícios antes da vitória, em 1960.

“Em uma semana, podemos escolher entre esperança e medo, união ao invés de divisão, a promessa de mudança acima do poder do status quo”, discursou Obama. “Em uma semana, podemos nos unir como uma nação e um povo, e mais uma vez escolher nossa melhor história.”

Como sempre, Obama eletrizou seus simpatizantes com seu carisma e retórica. “A parte de que mais gostei foi quando ele disse que levará a mudança para todos nós, democratas e republicanos, ricos, pobres e deficientes”, disse Lovie Armstead, uma negra de 30 anos que trabalha como recepcionista no Stark State College of Technology. “Adoro a maneira como ele mexe com o coração de todos os presentes”, elogiou a advogada Janet Schwartz, uma loira de 55 anos.

“Todos sabemos que a América está fraturada, e não pode sobreviver dessa maneira, mas Obama é capaz de expressar isso como ninguém”, disse Eric Resnick, um homossexual de 45 anos. Resnick disse que teme, no entanto, o fator racial nessas eleições. “Estive fazendo campanha no fim de semana em bairros operários em Columbus (capital de Ohio, 200 km a sudoeste de Canton), e senti que a raça é um grande obstáculo.”

“Obama deixou claro que essa eleição não é dele, mas de todos”, observou Joyce Healy-Abrams, irmã do prefeito de Canton, William Healy, apenas o segundo democrata a administrar a cidade em 40 anos. “Ele transmite uma humildade natural.”

No discurso de 40 minutos de ontem, Obama, que tem 8 pontos de vantagem na média das pesquisas nacionais segundo o site USA Election Polls, deixou transparecer sua preocupação com um espírito de “já ganhou” entre os seus eleitores. “Não pensem por um minuto que o poder cede”, disse ele. “Temos muito trabalho para fazer. Temos que trabalhar como se nosso futuro dependesse dessa semana.”

“O senador McCain disse que não podemos passar os próximos quarto anos esperando nossa sorte mudar, mas vocês entendem que a aposta mais arriscada que podemos fazer é abraçar as mesmas velhas políticas de Bush e McCain que nos levaram ao fracasso nos últimos oito anos”, argumentou o senador de 47 anos.

A 100 km dali, em Cleveland, diante de uma platéia bem mais modesta – cerca de 100 pessoas -, McCain contra-atacou, advertindo para o “perigo” de eleger um presidente democrata e ao mesmo tempo dar maioria absoluta no Senado ao partido, que já preside a Câmara dos Deputados. As projeções indicam que os democratas poderão atingir cerca de 60 cadeiras no Senado, o que lhes permitiria evitar obstruções de votações por parte dos republicanos.

Segundo McCain, os democratas aumentariam os impostos para custear seus programas sociais. Obama voltou a afirmar ontem que não pretende elevar os impostos da classe média. Segundo ele, quem ganha abaixo de US$ 250 mil não sofrerá aumento de impostos. McCain, de 72 anos, voltou a explorar a declaração de Obama, num comício em Toledo, Ohio, de que seria preciso “distribuir a riqueza”, um conceito pouco palatável para um grande número de americanos.

“Obama acredita em redistribuir a riqueza, não em políticas para nossa economia crescer e gerar empregos”, disse McCain num comício em Dayton, também em Ohio. “Ambos discordamos da política econômica do presidente Bush”, assinalou McCain, procurando distanciar-se do presidente, desaprovado por 70% dos americanos. “A diferença é que ele (Obama) acha que os impostos estão baixos, e eu acho que os gastos estão altos”.

McCain também explorou uma declaração feita por Obama em 2001 na Rádio Pública de Chicago, em que ele observou que a Suprema Corte “nunca se aventurou nas questões de redistribuição de riqueza e temas mais básicos de justiça política e econômica nesta sociedade”. Obama, na época senador estadual em Illinois, fazia uma crítica aos movimentos sociais, por terem insistido em atuar no âmbito da Suprema Corte. A gravação foi reproduzida ontem por programas de rádio conservadores em Ohio, como “prova” não só das tendências “marxistas” de Obama, professor de direito constitucional, mas também de seu desapego pelas instituições americanas.

De Ohio, tanto Obama quanto McCain seguiram para a Pensilvânia, onde o democrata lidera as pesquisas por 51% a 41%, segundo a média da CNN.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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