Obrador rejeita proposta de diálogo

Porta-voz do partido derrotado no México afirma que negociações só serão abertas após renúncia de Calderón

CIDADE DO MÉXICO  – O Partido da Revolução Democrática, do candidato derrotado na eleição presidencial do México, Andrés Manuel López Obrador, recusou ontem uma oferta de acordo feita pelo presidente eleito, Felipe Calderón. “Rejeitamos completamente qualquer possibilidade de negociações”, disse o porta-voz do PRD, Gerardo Fernández. De acordo com o porta-voz, o partido só consideraria a hipótese de um diálogo depois que Calderón renunciasse.

Durante entrevista ontem de manhã para a imprensa estrangeira, Calderón, que assume dia 1.º de dezembro, disse que convidará oposicionistas para formar um governo de coalizão. “Para cruzar um abismo, é preciso ter pontes”, declarou o presidente eleito. “De minha parte, as pontes sempre estarão lá, esperando o momento em que meus adversários queiram atravessar.”

Recusando-se a aceitar a derrota nas urnas e os apelos por um diálogo nacional, Andrés Manuel López Obrador, o candidato da oposição à presidência do México, está determinado a impedir que o governo e as instituições funcionem normalmente. Na sua última proeza, os militantes da frente de oposição Pelo Bem de Todos ocuparam a frente do Tribunal Eleitoral, lançando ovos e insultos contra os políticos e funcionários do governo que se aventuraram entrar pela porta principal para assistir à diplomação do presidente eleito, Felipe Calderón, na quarta-feira.

Para o próprio Calderón poder chegar ao local, o Estado-Maior Presidencial teve de organizar um esquema especial. Calderón desceu de helicóptero num prédio vizinho, e de lá seguiu numa caminhonete, entrando no Tribunal pela garagem. O Estado perguntou ontem ao chefe de campanha do presidente eleito, Juan Camilo Mouriño, o que levou Calderón a entrar dessa maneira no Tribunal. “Ele entrou de acordo com o que determinou o Estado-Maior e o protocolo”, desconversou Mouriño. “Isso é tudo.”

A “assembléia informativa” na qual López Obrador discursa para seus simpatizantes todos os dias teve de ser adiada das 19h para as 20h30, por causa do que se passou no Tribunal, segundo os organizadores, o que sugere que o líder oposicionista teve um envolvimento pessoal na operação. “O presidente marionete entrou pela porta de trás da história”, regozijou-se uma oradora no palanque, montado na Praça da Constituição, em frente ao palácio do governo. “Os que não têm razão, não têm o povo do seu lado, precisam usar força e helicóptero”, tripudiou López Obrador no seu discurso, a cerca de 5 mil pessoas.

O candidato, que perdeu por uma diferença de apenas 233 mil votos (0,56%), acusa o governo de ter fraudado a eleição. Agora, tentará reunir 1 milhão de pessoas numa “Convenção Nacional Democrática” no dia 16, que fará as vezes de assembléia constituinte e deverá lançar uma espécie de governo paralelo.

Na mesma “assembléia informativa”, os oradores festejaram uma ação da “resistência civil pacífica” no canal de TV Televisa, em que jovens militantes do movimento entraram num programa de auditório transmitido ao vivo, na noite de terça-feira, e fizeram discursos a favor de López Obrador. Os oposicionistas acusam a mídia mexicana de apoiar o governo.

Um funcionário da emissora confirmou ao Estado que o incidente ocorreu, mas desmentiu que a partir de agora o programa Otro Rollo (algo como Outro Papo) será gravado. “Reforçamos as medidas de segurança.”

No dia 1.º, os deputados da coalizão oposicionista impediram o presidente Vicente Fox de apresentar o seu discurso anual de prestação de contas ao Congresso e à nação, ocupando fisicamente a tribuna. Fox – que também tem evitado o palácio, cujos arredores estão ocupados pelos manifestantes há mais de um mês – teve de fazê-lo da residência oficial. “O importante é que tudo o que fazemos é legal”, justifica López Obrador, que, depois do incidente no Congresso, declarou aos jornalistas: “Ao diabo com as instituições.”

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