BID garante cooperação internacional ao país

Segundo presidente do banco, Enrique Iglesias, há consenso na necessidade do ajuste fiscal

 

SANTIAGO – Entre os participantes da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Santiago, há um quase consenso em relação à necessidade do ajuste fiscal na Argentina. As preocupações concentram-se na capacidade do presidente Fernando de la Rúa de arregimentar apoio político. “Creio que o problema na Argentina agora esteja mais no plano político do que no econômico”, disse ao Estado o presidente do BID, Enrique Iglesias. “Não desconheço os custos dolorosos do ajuste, mas também não desconheço os custos muito mais dolorosos do desajuste.”

Iglesias acrescentou que confia “na capacidade da liderança política argentina de dar uma oportunidade aos programas e superar os atuais desencontros”. E assegurou: “Não vai faltar cooperação internacional ao país.”

O presidente da Câmara de Exportadores da Argentina, Enrique Mantilla, estava reticente. “É complicado comentar neste momento, porque há o lado econômico e o lado político”, disse ele. “Avaliar o resultado econômico sem saber o que vai acontecer com a política é difícil.”

“O único caminho é mesmo o do ajuste, já que eles não têm como recorrer à política cambial e monetária”, avaliou o vice-presidente do BID, o ex-ministro do Planejamento do Brasil Paulo Paiva, referindo-se ao câmbio fixo argentino. “Tudo vai depender do rearranjo do apoio político ao governo.”

“Os argentinos nunca solucionaram o problema do déficit fiscal”, recorda o senador Edgardo Boeninger, da Democracia Cristã chilena, secretário-geral da Presidência no governo Patricio Aylwin. “Parece que, por não terem aceitado sacrifício de grau 1, agora terão de fazer sacrifício grau 10.”

Entre os argentinos, no entanto, não há uma unanimidade quanto ao acerto da política econômica. “É insistir numa política de ajuste, cujo esforço se concentra no equilíbrio fiscal, que vai provocar mais crise e mais recessão”, opina Francisco Yofre, da Comissão do Mercosul para Micro, Pequenas e Médias Empresas. “Além disso, há uma contradição de fundo na Aliança (de governo), que não vai permitir que (o ministro da Economia Ricardo) López Murphy leve o ajuste adiante.”

“Deveríamos anunciar aos investidores que vamos dar oportunidades nunca vistas na Argentina, mas por um tempo determinado”, sugere Yofre. “O fluxo de investimentos estrangeiros impulsionaria o crescimento econômico.” O autor dessa proposta: o ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, cujo eventual retorno ao governo é visto como um dos desfechos possíveis. 


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