Com as mudanças, Rodrigues toma as rédeas da Agricultura

Embrapa era chefiada por gente de confiança de José Graziano e Marina Silva

 

Num certo sentido, o ministro Roberto Rodrigues finalmente assumiu ontem de forma plena o Ministério da Agricultura, ao anunciar as mudanças na presidência e diretoria da Embrapa. Com elas, Rodrigues vence uma penosa queda-de-braço com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto.

Foi um parto. Pelo menos desde setembro o ministro havia sido autorizado pelo  presidente Luiz Inácio Lula da Silva a lhe oferecer novos nomes para a direção da estatal. Rodrigues, ele mesmo um moderno produtor de cana em São Paulo e de soja no Maranhão, consultou cientistas de unidades da Embrapa no interior paulista. Surgiu o nome Silvio Crestana.

Entretanto, só depois da nomeação, no dia 13 de dezembro, de Luis Carlos Guedes Pinto para o cargo de secretário-executivo do Ministério, foi que Rodrigues criou o ambiente político favorável para as mudanças na direção da Embrapa. Assim como o agora ex-presidente Clayton Campanhola, Guedes também é fortemente ligado a José Graziano, assessor especial do presidente.

Feita a reverência ao influente amigo do presidente, Rodrigues partiu para consolidar o nome de Crestana, um pesquisador de ponta na área de instrumentação agropecuária, e sem coloração política – uma das condições definidas por Lula. Na semana passada, Rodrigues já tinha também os nomes dos três novos diretores-executivos da estatal. Mas Guedes ponderou com o ministro que seria melhor ouvir o novo presidente sobre a composição da diretoria. Na quarta-feira, em reunião na casa do ministro, os nomes foram acertados com Crestana.

Os novos diretores-executivos não foram anunciados ontem. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, eles são: José Geraldo Eugênio França, atual chefe da Superintendência de Pesquisa e Desenvolvimento, em Brasília; Tatiane Deane de Abreu Sá, que chefia a Embrapa Amazônia Oriental, de Belém; e Kepler Euclides Filho, chefe da unidade de Gado de Corte em Campo Grande.

Eles vão suceder Herbert Cavalcante de Lima, ex-presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), contrário aos transgênicos, e indicado por Marina Silva; Gustavo Chianca, indicado pela ex-ministra de Assistência Social Benedita da Silva e vinculado às teses do ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto; e Mariza Barbosa, que aparentemente não tinha padrinhos.

Ao assumir, em 2003, Campanhola definiu, em memorando, como “primeira vertente prioritária da Embrapa atividades de pesquisa e desenvolvimento direcionadas aos agricultores familiares, assentados da reforma agrária e pequenos empreendedores rurais”. A pesquisa e desenvolvimento voltados para o agronegócio, responsáveis pelo prestígio da Embrapa, foram relegados a segundo plano. 

Além disso, Campanhola substituiu chefes de unidade em meio de mandato, o que é incomum na estatal, por funcionários ligados ao PT e ao Sinpaf, que passou a atuar na estatal como uma espécie de censor dos cientistas, reprimindo aqueles que manifestassem interesse por pesquisas que beneficiam o agronegócio em geral e os transgênicos, em particular. 

A influência ideológica e política sobre os rumos da Embrapa causou enorme preocupação entre cientistas de ponta da estatal, como mostrou reportagem do Estado, em fevereiro do ano passado. Depois da publicação da reportagem, Campanhola mudou o discurso, dando mais ênfase ao agronegócio, e demitiu petistas que tinha colocado em cargos de chefia. Com isso, reuniu contra si a oposição das duas alas dentro da empresa, selando seu destino.

Com a escolha de Crestana e dos diretores-executivos, Rodrigues consolida não só o seu poder sobre o ministério, mas também a reordenação de sua gestão para a estratégia de defesa comercial. Crestana dirigiu em Washington o Laboratório Virtual da Embrapa (Labex), que se dedica à cooperação em pesquisa, de um lado, mas também à espionagem comercial, de outro, monitorando o desempenho do agronegócio nos EUA, e repassando informações importantes para os produtores brasileiros. Há uma semana, Rodrigues já havia nomeado Elísio Contini, ex-coordenador do Labex de Montpelier (França), seu assessor de Gestão Estratégica. Um novo Labex será aberto na China.


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