Elite quer crescimento, distribuição de renda e reforma política

Pesquisa indica aprovação das reformas da era FHC e desenha agenda mínima para Lula

 

 

A elite brasileira quer preservar as conquistas do governo Fernando Henrique Cardoso nas áreas da estabilidade monetária, das reformas do Estado, das privatizações e da responsabilidade fiscal. E espera que o próximo governo avance no que se refere à criação de um ambiente para o crescimento econômico e para a redução das desigualdades sociais, e que não adie mais a reforma política.

São as conclusões de uma pesquisa do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp), a partir de questionário enviado a empresários, sindicalistas, parlamentares, ministros e funcionários do segundo escalão do governo federal, juízes e promotores, religiosos, dirigentes de organizações não-governamentais, intelectuais e jornalistas de destaque em todo o País. As respostas indicam não só um balanço da era FHC, mas uma agenda mínima para o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva.

A aprovação do governo entre os entrevistados, ouvidos de agosto a outubro, soma 80%: 6% consideram ótimo seu desempenho nos dois mandatos, 42%, bom, e 32%, regular. Os maiores elogios se referem ao prestígio internacional do País e à estabilização da economia. A maioria concorda ou “tende a concordar” com iniciativas como a privatização, a abertura às importações e ao capital estrangeiro.

As maiores decepções recaem sobre o baixo crescimento econômico, o combate à pobreza e às desigualdades sociais, o aperfeiçoamento da estrutura política e a persistência do clientelismo e da corrupção. Os entrevistados também sentem falta de uma política industrial. (clique no quadro)

Temas polêmicos como a flexibilização da legislação trabalhista recebem uma apreciação bastante diferenciada, de acordo com o segmento. No total, 64% concordam ou tendem a concordar, mas os grandes empresários e os donos de pequenas e médias empresas estão num extremo, com 92% e 89%, respectivamente, e os sindicalistas noutro, com apenas 16%.

Embora 59% concordem ou tendam a concordar com a redução da idade para responsabilização penal, essa fatia cai para 41% entre os juízes e promotores. O fim da imunidade parlamentar para crimes comuns, que tem o apoio de 94% dos ouvidos, é substancialmente defendida também pelos parlamentares, embora numa proporção um pouco menor: 87%.

Quatro itens de reforma política recebem grande aceitação entre os entrevistados: 71% concordam ou tendem a concordar com limitar a representação no Congresso a partidos com pelo menos 5% da votação nacional; 77% dizem o mesmo sobre tornar o número de deputados federais proporcional à população de cada Estado; 75%, em relação ao financiamento público de campanhas, e 85%, quanto à fidelidade partidária. As quatro iniciativas são apoiadas pela maioria dos parlamentares.

Alca – A pesquisa reflete, também, as incertezas com relação à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Numa questão de múltipla escolha, 38% concordaram mais com a frase: “A integração na Alca não interessa ao Brasil, pois a competição dos Estados Unidos pode arruinar nossas empresas e desnacionalizar a economia.” Outros 33% escolheram a afirmação: “A integração na Alca interessa ao Brasil pois aumentaria a competitividade e estimularia o crescimento de nossa economia.” Já 25% deram outras respostas.

De acordo com os cientistas políticos Bolívar Lamounier e Amaury de Souza, do Idesp, que apresentaram ontem os resultados à imprensa, muitos desses 25% e daqueles 33% apresentaram a ressalva: a Alca interessa ao Brasil desde que os Estados Unidos se disponham a reduzir suas barreiras.

Já o Mercosul goza de grande simpatia entre 81% dos entrevistados: 51% são a favor de transformá-lo num mercado comum e 30% desejam fortalecê-lo como união aduaneira; 9% querem que volte a ser uma “simples área de livre comércio”. 


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