Shows musicais marcam últimos comícios no Chile

Candidato governista chega em vantagem nas pesquisas para eleição presidencial de domingo

 

SANTIAGO – A campanha para o primeiro turno da eleição presidencial no Chile foi encerrada oficialmente ontem, com comícios dos dois principais candidatos: o favorito Ricardo Lagos, da aliança governista que une o Partido Socialista e a Democracia Cristã, e Joaquín Lavín, apoiado pelos partidos direitistas Aliança Democrática Independente e Renovação Nacional. 

Os dois lançaram mão de shows de música popular para atrair multidões, método familiar no Brasil, mas novo no Chile. O “showmício” de Lagos foi na Alameda, a principal avenida de Santiago, e 

contou com o reforço do veterano grupo musical Inti Illimani e de outros cantores ligados à esquerda. De acordo com o senador Carlos Ominami, porta-voz de Lagos, o objetivo era juntar “pelo menos” 160 mil pessoas, para “dobrar” a audiência do comício de Lavín em Santiago, realizado na mesma 

Alameda, na terça-feira à noite. 

A polícia calculou que havia 84 mil pessoas naquela noite, embora Francisco de la Maza, coordenador da campanha de Lavín, garanta que eram 200 mil. Para Lavín, essa participação indicaria que ele venceria a eleição com margem de quatro pontos porcentuais sobre Lagos. 

Não é o que as pesquisas indicam. A última delas, realizada pelo Centro de Estudos da Realidade Contemporânea (Cerc), atribui 45,8% para Lagos e 39,6% para Lavín, com margem de erro de 2,3 pontos porcentuais. Se nenhum candidato obtiver 50% mais um voto, haverá segundo turno, dia 16 de janeiro.

Lavín encerrou sua campanha ontem em Concepción, capital da região do Biobío, ao sul de Santiago, para enfatizar o conteúdo descentralizador de sua plataforma de governo. Em seu “trem da mudança”, locomotiva puxando seis vagões que iam recolhendo partidários pelas cidades do interior, o ex-administrador regional de Las Condes (bairro chique de Santiago) percorreu o país, firmando “contratos regionais”, que são plataformas de governo preparadas para cada uma das 12 regiões. 

A pièce de résistance dos showmícios do direitista Lavín é a cantora popular Miriam Hernández, que canta até temas de Violeta Parra, ícone da esquerda chilena. Acompanhado da mulher e sete filhos, Lavín, da Opus Dei, salientou os valores da família e prometeu crescimento econômico. Lagos, separado da mulher e acompanhado do ex-presidente Patricio Aylwin, prometeu justiça 

social.

Os programas dos dois, no entanto, são praticamente idênticos. Lagos procurou demonstrar o prestígio internacional de sua candidatura, exibindo vídeos com declarações de apoio do novo presidente argentino, o radical Fernando de la Rúa, do primeiro-ministro francês, o socialista 

Lionel Jospin, e de personalidades como o cineasta italiano Ettore Scola e o músico francês Jean Michel Jarre, entre outros. 

A terceira colocada nas pesquisas, a comunista Gladys Marín, que, segundo o Cerc, terá 6,7% dos votos, encerrou sua campanha na Praça Victoria, em Valparaiso, ao noroeste de Santiago.

Há outros três candidatos: o humanista Tomás Hirsch (2,4%), que encerrou sua campanha no sábado, na periferia de Santiago, distribuindo uma tortilla gigante para os moradores; o pinochetista Arturo Bolívar Frei (0,9%), que também se despediu em Concepción, ontem; e Sara Larraín (0,3%), do Movimento Alternativa de Mudança, que realizou reunião com os assessores num centro de estudos ambientais de Santiago, no sábado. 

Ontem também foi o último horário eleitoral gratuito, das 20h50 às 21h05 locais. A partir de zero hora de hoje, a campanha eleitoral está proibida. Com isso, os partidos terão de recolher os cartazes. A Aliança pelo Chile, de Lavín, terá muito mais trabalho que a Concertación.

Não só em Santiago como no resto do país, há muito mais cartazes do ex-administrador de Las 

 

Condes, com a frase “com Lavín, viva a mudança”, do que do ex-ministro de Obras Públicas, dizendo: “Lagos contigo, crescer com igualdade.” Em todo caso, os cartazes não são colados em postes e muros, como no Brasil e noutros países do Terceiro Mundo. Eles têm suporte próprio ou são afixados em alguns murais.

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