Colombianos querem diálogo com guerrilha, diz pesquisa

Quase 63% apóiam negociação e 54,7% devem, no domingo, reeleger Uribe, que já fala em conversar com as Farc

 

BOGOTÁ

A maioria dos colombianos deseja uma negociação de paz entre o governo e a guerrilha. E deve reeleger, no próximo domingo, o presidente Álvaro Uribe, que conduziu nos últimos quatro anos uma guerra implacável contra os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A contradição é apenas aparente. Traumatizados por experiências anteriores, os colombianos confiam que Uribe seja o homem certo para negociar numa posição de força. 

Pesquisa do instituto Datexco perguntou aos entrevistados o que o próximo presidente deve fazer, com relação ao conflito armado. “Negociar com a guerrilha” foi a resposta escolhida por 62,9%; “combatê-la”, por 33,3%. A mesma pesquisa, publicada no domingo pelo jornal El Tiempo, com margem de erro de 2,83 pontos para mais ou para menos, indica que o presidente Uribe deve se reeleger já no primeiro turno, com 54,7% dos votos. 

De fevereiro para cá, Uribe permaneceu estável na preferência eleitoral, subindo 0,8 ponto porcentual. Já o principal candidato da esquerda, Carlos Gaviria, do Pólo Democrático Alternativo, o partido que absorveu os ex-guerrilheiros do M-19, revela-se o grande fenômeno dessa eleição. De 3,5% em fevereiro, Gaviria saltou para 23,7%, ultrapassando o tradicional Partido Liberal, que poderia ser classificado “de centro”. 

Eterno candidato liberal, o ex-ministro do Interior Horacio Serpa caiu de 20,1% para 10,0%. Ambos são defensores de negociações de paz e críticos do Plano Patriota, a política de Uribe que combina ofensiva militar com uma lei de desmobilização dos grupos armados, sua reintegração à sociedade, punição branda e reparações materiais pelos danos causados.

Militarmente acuadas, as Farc enviaram recentemente sinais de que estariam dispostas a iniciar um processo de diálogo. “Sempre estivemos abertos à negociação”, respondeu Uribe. O governo aceita até criar uma zona desmilitarizada para realizar as conversações. Embora não nos moldes do governo do ex-presidente Andrés Pastrana, que criou, em 1999, um santuário de 42 mil quilômetros quadrados no centro do país para a guerrilha, que o utilizou como base para ataques, seqüestros e atividades do narcotráfico.

Na nova zona desmilitarizada não poderia entrar ninguém armado, nem do Exército nem da guerrilha. Com a presença de observadores internacionais, os líderes guerrilheiros poderiam vir negociar com representantes do governo. Hoje, no entanto, um acordo de paz entre as Farc e seu arquiinimigo, o presidente Uribe, parece algo impensável. 

“Obviamente (os guerrilheiros das Farc) detestam Uribe, detestam o governo, mas são pragmáticos e realistas, e creio que vão apostar numa negociação”, avalia o vice-presidente Francisco Santos, em entrevista publicada no domingo por El Tiempo, do qual aliás sua família é proprietária. “Com Uribe, não firmariam a paz. Iniciariam um processo que ficaria avançado, mas deixariam o acordo para o governo seguinte (a ser eleito em 2010).”

A pesquisa do Datexco mostra que a popularidade de Uribe, o primeiro presidente a se reeleger na história da Colômbia, mantém-se inabalada, apesar de escândalos de corrupção e de denúncias de envolvimento com paramilitares e narcotraficantes, que atingiram o Departamento Administrativo de Segurança (DAS), uma espécie de Polícia Federal colombiana. 

Os escândalos derrubaram o ex-diretor do DAS, Jorge Noguera, que se tornou cônsul de Milão, mas há duas semanas teve de pedir demissão do novo cargo, depois que a Procuradoria-Geral da República abriu investigação sobre possível fraude na eleição de Uribe em 2002 no Departamento de Magdalena, onde ele era chefe de campanha do então candidato presidencial.

De acordo com a pesquisa, 44,7% dos colombianos dizem que sua imagem de Uribe permanece igual depois dos escândalos; para 28,5%, ela piorou; e 24,4% afirmam que ela até melhorou. Ao mesmo tempo, 82,0% declaram que não mudaram seu voto depois desses escândalos.

Nada parece grudar em Uribe, nem mesmo o renovado desejo de paz dos colombianos, e a razão parece simples: depois de um governo Pastrana (1998-2002) em que a ousadia da guerrilha ganhou dimensões inéditas, o atual governo conseguiu, com ações militares robustas e contínuas, reduzir sensivelmente os bloqueios de estradas e seqüestros. Viajar no país tornou-se mais seguro, e muitos fazendeiros e empresários puderam retornar a suas atividades em regiões antes dominadas pelas Farc.

 

Em parte graças a isso, a economia colombiana se recupera. Cresce a um ritmo anual de 5%, enquanto o desemprego caiu de cerca de 20%, há quatro anos, para 13%.

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