Farc comemoram aniversário com atentados

Grupo lança ataque com explosivos em Bogotá e põe fogo em ônibus; representante da ONU diz que a organização estuda o pedido do presidente eleito para coordenar mediação internacional de negociações de paz

 

BOGOTÁ — Como faz há 15 anos, Marina Sanabria chegou ontem às 3 da madrugada, com seu carrinho de café e sucos, à porta principal de Corabastos, o maior centro de abastecimento de hortifrutigranjeiros do país, no sudoeste de Bogotá. Às 9h25, ouviu um estrondo e caiu no chão, com escoriações em todo o corpo, sob o impacto da explosão de um Renault 4, um carrinho velho e popular na Colômbia como o fusca no Brasil. Eram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) comemorando seus 38 anos de fundação. Além de Marina, outras quatro pessoas ficaram feridas.

Dois jovens trajando roupas esporte contrataram Luis Alberto Vargas, dono do Renault azul, e seu filho, para transportar um carregamento de frutas. Eles próprios colocaram as caixas de frutas no carro, sobre 17 quilos de explosivos. O carro explodiu ao lado de um posto de gasolina. O motorista sofreu ferimentos no rosto e num dos olhos; o filho, na cabeça e no tórax.

Foram levados para um hospital próximo, mas não correm risco de morte.

“Definitivamente, esses grupos não dão a mínima para a opinião pública”, constatou o prefeito de Bogotá, Antanas Mockus. Três suspeitos foram detidos.

Noutra ação ousada, as Farc montaram um rápido bloqueio na estrada que liga Bogotá a Bucaramanga, capital do Departamento de Santander, ao norte do país. Os guerrilheiros atearam fogo a dois ônibus, matando um dos motoristas e deixando três feridos. Foi a primeira vez que a guerrilha bloqueou a estrada, uma das mais importantes do país. Na noite de segunda-feira, a guerrilha lançou um botijão de gás com explosivos no pátio de um colégio em Cali, onde havia 300 alunos, mas ninguém saiu ferido.

O diretor da Polícia Nacional, general Jorge Enrique Linares, disse que as forças de segurança continuam em alerta máximo, mas “a situação no país é normal”. Os 212 mil policiais e militares seguem mobilizados, promovendo bloqueios nas ruas e estradas, que dão calafrios nos motoristas, com receio de que se trate de ação da guerrilha, que usa fardas e armas idênticas.

O chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas em Bogotá, Anders Kompas, declarou ontem que o organismo “examinará com interesse” o pedido do presidente eleito, Álvaro Uribe, para que coordene a mediação internacional de negociações de paz com a guerrilha e os paramilitares.

Uribe solicitou audiência com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, para discutir o tema.

Ontem à noite, informou-se que o subsecretário de Estado americano para Assuntos Hemisféricos, Otto Reich, viajará nos próximos dias para a Colômbia.

O presidente eleito já no primeiro turno, no domingo, com 53% dos votos, impõe como condição para o diálogo o fim das hostilidades e das ações terroristas. Em comunicado da semana retrasada, as Farc reivindicaram, para retomar as negociações, a desmilitarização de nada menos que dois Departamentos (Estados) do sul: Putumayo e Caquetá, redutos da guerrilha e do narcotráfico. Parece fora de cogitação.

Uribe se reuniu ontem de manhã com os chefes da equipe de campanha da candidata conservadora independente Noemí Sanín, que ficou em quarto lugar no domingo, com 5,7% dos votos, e manifestou apoio a seu governo.

Entre os presentes, estava o economista Juan Luis Londoño, subchefe de Planejamento do ex-presidente César Gaviria (1990-94) e cogitado para um cargo na equipe econômica de Uribe.

O principal assessor econômico de Uribe, Rudolf Hommes, ministro da Fazenda de Gaviria que pode agora voltar ao cargo, confirmou ontem o compromisso do futuro governo com a reforma tributária e o ajuste fiscal, que deve ser a base da reivindicação de mais recursos do Fundo Monetário Internacional.

 

Uribe também tinha encontro marcado ontem com o candidato do Partido Liberal, Horacio Serpa, segundo colocado, com 32% dos votos. Serpa abriu mão da liderança do partido, dividido entre apoiar e fazer oposição a Uribe, um dissidente liberal. A tese da adesão ao governo ganhou ontem dois fortes adeptos: os ex-presidentes Alfonso López Michelsen e Ernesto Samper. Em todo caso, Uribe já tem garantida maioria absoluta no Congresso, graças ao apoio de conservadores e de uma parte dos liberais.

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