Ingrid defende chance de 3º mandato

Ex-senadora diz que isso não quer dizer que vá votar em Uribe e afirma que não sabe se se candidatará à presidência

 

BOGOTÁ – A ex-senadora e ex-candidata a presidente Ingrid Betancourt, resgatada na quarta-feira pelo Exército depois de seis anos e meio em cativeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), declarou-se ontem a favor de o presidente Álvaro Uribe ter a chance de disputar uma terceira eleição. Num dia em que as atenções do país e do mundo estiveram concentradas na mais famosa refém da Colômbia, Ingrid fez também um apelo aos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Correa, para que ajudem Uribe a obter a libertação dos 26 reféns “políticos” ainda sob poder da guerrilha.

“Terceira reeleição? Por que não?”, perguntou Ingrid, durante entrevista coletiva na embaixada da França em Bogotá. “Parece-me interessante. Não quer dizer que eu vá votar em Uribe. Pode surgir um candidato com mais sensibilidade social, para mim um tema essencial.” Ingrid, que viveu até 1989 na França, cujo parlamentarismo permite aos presidentes reeleger-se indefinidamente, arrematou: “Gosto da reeleição, de os países terem a possibilidade de eleger um rumo e segui-lo por vários anos.”

Ingrid, que na véspera havia dito que poderia “servir a Colômbia” como presidente, ontem afirmou que não sabe se sairá candidata. “Estou em dívida com minha menina, meu filho e minha mãe, a quem impus decisões que os fizeram sofrer muito”, declarou Ingrid, de 46 anos. “Vamos decidir juntos sobre o que farei a partir de agora. A presidência me parece tão distante! Estou tão feliz com minha família que não quero falar desses temas.”

As declarações de Ingrid – visivelmente agradecida a Uribe pelo risco que correu ao autorizar o seu resgate e o de 11 policiais e militares colombianos e 3 americanos a serviço do Departamento de Defesa – coincidiram com a rejeição, na noite de quarta-feira, pela Corte Constitucional, da ação na Justiça questionando a legalidade da reeleição do presidente em 2006. O processo foi motivado pela confissão da ex-senadora Yidis Medina de que votou numa comissão em favor da introdução da reeleição em troca de cargos públicos. A emenda venceu por 19 votos a 17. Uribe propôs um plebiscito sobre a necessidade ou não de “repetir” a eleição de 2006. 

“A primeira coisa que devemos fazer é um chamado ao presidente Chávez e ao presidente Correa para que nos ajudem a restabelecer vínculos de amizade, de fraternidade, de confiança com o presidente Uribe”, disse Ingrid. “Essa é uma etapa essencial para que possamos vislumbrar novas liberações unilaterais.” 

Uribe vive embate com os colegas dos países vizinhos desde que retirou de Chávez o papel de mediador frente às Farc, em dezembro, e autorizou o bombardeio de acampamento da guerrilha no Equador, em março, levando à morte do número 2 do grupo, Raúl Reyes. Depois de chamar Uribe de “serviçal do imperialismo americano”, de “congelar” as relações com a Colômbia e de defender o status de “força beligerante” das Farc, Chávez tem feito gestos na direção contrária. No mês passado, ele disse que a luta armada das Farc “não tem mais lugar na América Latina” e fez um apelo à guerrilha para que libere todos os reféns, incondicionalmente. E ontem chamou Uribe de “irmão” e o convidou a visitá-lo. “Dissemos coisas duras um sobre o outro, mas irmãos são assim mesmo”, justificou.

Ao falar de “liberações unilaterais”, Ingrid deu ainda um aval importante às ações de resgate militar autorizadas por Uribe, criticadas por militantes de direitos humanos e por familiares dos reféns, incluindo a mãe da ex-senadora, Yolanda Pulecio.

Os filhos de Ingrid, Lorenzo (19 anos) e Melanie (22), chegaram às 8h da manhã em Bogotá (10h em Brasília) num avião do governo francês, acompanhados da irmã da ex-senadora, Astrid, de seu ex-marido e pai dos dois jovens, Fabrice Delloye, e do chanceler da França, Bernard Kouchner. Ingrid subiu as escadas do avião, enquanto Melanie e Lorenzo encostavam os rostos nas janelas, esperando a abertura da porta. Os três se abraçaram e beijaram, rindo e chorando ao mesmo tempo.

Ainda pela manhã, Ingrid fez uma comovente visita ao túmulo de seu pai, Gabriel Betancourt, que morreu de um ataque no coração um mês depois de seu seqüestro, ocorrido em fevereiro de 2002. Na noite de quarta-feira, em suas primeiras declarações depois do resgate, na Base Aérea de Catam, em Bogotá, Ingrid havia confessado que se sentia “culpada” pela morte do pai. Então em campanha para presidente, ela insistiu em ir participar de um comício em San Vicente del Caguán, 250 quilômetros ao sul de Bogotá, apesar das advertências das forças de segurança de que poderia ser seqüestrada pelas Farc.

 

Ingrid embarcou ontem à noite para a França, onde pretendia agradecer hoje ao presidente François Sarkozy e ao “povo francês” pela campanha em favor de sua libertação. Na semana que vem, será recebida pelo papa Bento XVI.

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