Noemí anuncia neutralidade no 2.º turno

BOGOTÁ — A candidata independente Noemí Sanín, que teve 27% dos votos na eleição presidencial de domingo na Colômbia, anunciou que não vai aderir a nenhum dos dois candidatos que passaram para o segundo turno.

O candidato do governo, o liberal Horacio Serpa, teve 34,59%, vencendo por menos de 27 mil votos o conservador Andrés Pastrana, com 34,34%. No segundo turno, dia 21, vencerá o candidato que atrair mais votos dos eleitores de Noemí. La Niña, portanto, continua o centro das atenções.

“Triunfou o voto livre e independente e eu não poderia indicar aos milhões de colombianos que votaram em mim em quem votar no segundo turno, porque sua natureza é a independência”, disse Noemí na madrugada de ontem, em meio a um clima de festa em seu comitê de campanha, por causa da expressiva votação.

“Essa é a mais alta votação obtida na história por um movimento sem apoio nenhum de políticos tradicionais”, disse Noemí, ex-filiada ao Partido Conservador e ex-chanceler no governo do liberal César Gaviria (1990-94).

“Trata-se de um sinal de protesto e uma manifestação do desejo de mudança e renovação.” Enquanto Noemí, olhos postos na eleição de 2002, reafirmava sua independência, Serpa e Pastrana já cortejavam o voto de seus eleitores, com um súbito entusiasmo pela ex-adversária. “Tenho certeza de que Noemí dará ao país sua contribuição quando chegar o momento das grandes definições para mudar a Colômbia”, disse o oposicionista, que em todas as frases encaixa a palavra-chave de sua campanha: mudança.

Serpa foi mais longe: “O êxito de Noemí ajudou a entender melhor o sentimento de muitos colombianos — que buscam a união antes da confrontação.” Ontem, enquanto Pastrana se reunia com assessores para desenhar a estratégia das próximas três semanas, com especial atenção para o debate de sexta-feira na TV, Serpa dava um golpe de publicidade.

O ex-ministro do Interior do presidente Ernesto Samper apresentou um plano de assistência para a micro-empresa, com menos burocracia para obter créditos e juros mais baixos que os proibitivos 20% ao ano cobrados pelos bancos. O cenário escolhido foi perfeito: a casa de Janeth Arango, onde funciona uma micro-empresa familiar de fabricação artesanal de bichos de pelúcia, em J. J. Vargas, bairro de classe média baixa de Bogotá.

Dezenas de jornalistas e equipes de TV acotovelavam-se na garagem e na sala.

Sete parentes trabalham na empresa. Janeth, filhos pequenos ao seu redor, disse ao Estado que, com esse fundo anunciado por Serpa, poderá “criar mais empregos e ser uma grande empresa”. A mensagem de Serpa parecia ser: “Estou preocupado com os problemas reais do povo.” Mas não se furtou a dizer que quer conversar com Noemí para obter seu apoio.

O grande trunfo de Serpa, de 55 anos, é a imagem de “homem do povo”, construída com um discurso simples e direto e a condição de nascido em família humilde. Seu pai era pintor de casa e sua mãe, professora, na provinciana Barrancabermeja, no norte da Colômbia. Já seu rival, filho do ex-presidente Misael Pastrana (1970-74), é um representante da elite.

Pastrana, de 44 anos, é um dândi que passou boa parte da vida em Miami e tem um discurso tachado de “neoliberal” por seus inimigos.

Qual se aproxima mais de Noemí? O analista Alejo Vargas, vice-reitor da Universidade Nacional da Colômbia, estima que 50% dos votos dados a Noemí possam ser transferidos para Pastrana e 30%, para Serpa (20% seriam em branco). Uma pesquisa divulgada antes do primeiro turno indicava que Pastrana bateria Serpa por 49% a 36%. Isso porque o inconformismo personificado em Noemí não se volta só contra as “máquinas” dos dois partidos centenários, mas também contra o governo de Samper — acusado de receber US$ 6 milhões do cartel de Cali para a campanha de 1994 —, do qual Serpa foi o principal articulador no Congresso.

Já o jornalista Francisco Celis, de El Tiempo, o maior jornal da Colômbia, acha difícil prever em quem os eleitores de Noemí votarão no segundo turno.

 

“Por um lado, Serpa esteve no governo atual, que muita gente repudia”, disse ele ao Estado. “Por outro, Pastrana é uma figura conservadora e muitos dos eleitores de Noemí não são conservadores.” Entretanto, Celis acha que prevalecerá um sentimento de simpatia por Pastrana.

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