Seções eleitorais não poderão ser vigiadas por milícias tribais

Comissão Eleitoral afirma que só haverá votação em distritos guardados por militares e policiais

CABUL – A Comissão Eleitoral Independente do Afeganistão informou ontem que não haverá seções eleitorais que não puderem ser protegidas por soldados e policiais, na votação para presidente e conselhos provinciais na quinta-feira. Isso exclui não só os 8 dos 365 distritos eleitorais nos quais o Taleban impede a entrada da polícia e do Exército. A Comissão também não aceitou que as seções fossem guardadas pelas milícias das chamadas áreas tribais, na vasta região autônoma na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, onde vivem 20 milhões de pessoas e a al-Qaeda e o Taleban desfrutam de livre trânsito.

 “Tivemos uma discussão com as forças de segurança, que nos pediram que abríssemos seções eleitorais em áreas protegidas pelos líderes tribais”, disse Zekreya Barekzai, porta-voz da Comissão, ao final de uma entrevista coletiva. “Nós não aceitamos. Dissemos que os líderes tribais deveriam primeiro oferecer segurança para a polícia. Onde não houver policiais nem soldados não haverá seções eleitorais.”

A área tribal situa-se ao longo dos 2.640 quilômetros da Linha de Durrand, demarcação da porosa fronteira entre Afeganistão e Paquistão. É fruto de um acordo firmado em 1893 entre emir afegão Abdur Rahman Khan e o Império Britânico, cuja colônia Índia incluía o atual Paquistão. Foi contestada por governos afegãos posteriores.

Tecnicamente, cada lado da linha pertence ao respectivo país, mas na prática as áreas tribais são autogovernadas por “agências”, cujas milícias atuam como polícia. A população é composta por 16 milhões da etnia pashtun e 4 milhões de balochis. Os pashtuns são o grupo predominante no Taleban, que utiliza parte dessas áreas como santuários, assim como seus aliados árabes da al-Qaeda. Raramente são importunados pelo Exército paquistanês, num misto de respeito à autonomia tribal e de apoio velado aos radicais.

Segundo Barekzai, há 17,5 milhões de títulos de eleitor no Afeganistão, ante 12,5 milhões nas eleições de 2004. Mas, como parte dos eleitores tem dois títulos, por ter migrado de província, ele estima que haja 15 milhões de pessoas habilitadas a votar. A Comissão prevê que 6.900 seções eleitorais serão abertas na quinta-feira; em 2004, foram 6.200.

O Taleban, que exerce influência sobre áreas do sul, do leste e do norte do país, tem realizado atentados e advertido os eleitores a não votar. Observadores da ONU previram comparecimento de 30%. Wadir Safi, professor de ciência política da Universidade de Cabul, estima que apenas 10% votem. “O dia da eleição será sangrento”, disse ele. “O Taleban avisou que em quase todas as províncias haverá atentados a bomba. A maioria das pessoas não vai querer sacrificar a vida por um voto.”

O porta-voz informou que haverá 73 mil fiscais representando os 36 candidatos a presidente, 165 mil trabalhando para os candidatos aos conselhos provinciais e outros 5.943 pertencentes aos partidos. Além disso, foram credenciados 7.450 observadores eleitorais afegãos e 962 estrangeiros. Embora o problema da segurança seja o mais crítico nesta eleição, há também preocupação quanto a sua transparência, e temores de distúrbios depois do anúncio dos resultados. Barekazai disse que a primeira contagem parcial da eleição para presidente deve sair no dia 25.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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