O país que mais emprega robôs

O jovem Chang-min Lee e seu robô dançarino: alta demanda por conhecimentos técnicos | Lourival Sant’Anna

Se há temor de que o crescimento econômico arrefeça, e uma especial preocupação com o aumento do desemprego, por outro lado a Coreia do Sul mantém um invejável dinamismo tecnológico e empreendedor. Isso fica evidente na Escola Técnica de Robótica de Seul, de onde 98% dos alunos saem empregados (ante um desemprego de 10% entre os jovens de 15 a 29 anos no país). “Somos a número 1 em emprego”, festeja Mi-ae Lee, diretora da escola. O assédio por parte das empresas começa já no primeiro ano do curso, durante duas exposições do setor: a feira de Robótica da Dong-dae-moon Design Plaza e a Robot War. “Pegaram o número do meu celular e o meu e-mail e entraram em contato”, diz Jung-soo Park, de 18 anos, que está no segundo dos três anos do curso. “Eu disse para me procurarem quando me formar.”

E não estamos falando de salário mínimo. Seu colega Chan-giy Park arrumou emprego na Samsung quando estava no primeiro ano do curso, com salário inicial de 5 milhões de wons (cerca de 3.800 dólares). Isso se deve ao alto grau de automação na indústria. A Coreia do Sul tem a maior densidade de robôs industriais do mundo. Segundo a Federação Internacional de Robótica, em 2017 havia 710 robôs para cada 10.000 empregados na indústria sul-coreana, o dado mais recente. Em seguida, vinham Singapura, com 658, Alemanha, com 322, e Japão, com 308.

Boa parte dos jovens, porém, prefere ir para alguma startup. Chang-min Lee, por exemplo, quer desenvolver sistemas automatizados que reduzam a poluição ou robôs humanoides que cuidem de pessoas idosas. “Nossa sociedade está envelhecendo”, afirma. Como trabalho de escola, ele já montou um robô que dança. Quando Seo-yun Choi, de 18 anos, disse aos pais que queria estudar na Escola de Robótica, a reação foi mista. Seu pai tem uma empresa que projeta e fabrica componentes para caixas de som, e ficou contente. “Minha mãe ficou preocupada porque não há muitas mulheres na indústria de robôs”, diz a jovem. De fato, dos 520 alunos, apenas 8% são meninas, embora metade dos professores sejam mulheres.

A demanda pelos conhecimentos desses jovens aumenta a cada dia. A rede de conveniência E-Mart já tem muitas lojas sem funcionários em Seul, assim como a cadeia de cosméticos Innisfree. Nas lanchonetes das redes McDonald’s, Burger King e Lotteria, assim como em quiosques, barracas, food trucks e restaurantes, os fregueses fazem o pedido e pagam em máquinas colocadas na entrada. Quando a senha é chamada, recebem o pedido das mãos de um funcionário no balcão. A VD Company está eliminando até essa pequena “intromissão” humana: desenvolveu robôs que substituem os garçons. Chamados de PuDuBots, eles são prateleiras sobre rodas programadas para ir buscar os pedidos na cozinha e levar até a mesa certa. O preço das máquinas vai de 14.000 a  16.000 dólares. Já foram vendidas 12.000 delas na China.

No café Lounge’X há vários atendentes humanos, mas o barista é um robô. “Ele nunca erra o modo de fazer o café”, afirma o gerente Yeon Woo Lee. O barista foi desenvolvido pela startup 6Gram, da qual a dona do café, Wolhyang, é coproprietária. O café tem também um garçom-robô, que traz o pão quentinho, fabricado pela empresa Bear Robotics. O lugar aceita pagamento em bitcoins, claro.

Como parte de sua estratégia para ingressar na indústria 4.0, na qual máquinas e equipamentos estão interconectados, a Coreia do Sul também investe maciçamente na tecnologia 5G. Foi o primeiro país a oferecê-la para uso B to C (de empresa para consumidor), às 23 horas do dia 3 de abril, 55 minutos antes do que a Verizon, nos Estados Unidos. O serviço B to B (de empresa para empresa) existe há mais tempo, desde dezembro. Em junho, a 5G coreana ultrapassou 1 milhão de assinantes, com 140.000 estações-base. Até o fim do ano, a meta é chegar a uma cobertura de 92% do território. “Estamos trabalhando para expandir a cobertura para shoppings, metrô e escritórios”, diz Park Tae Wan, diretor de Tecnologia da Informação e da Comunicação no Ministério da Ciência. “Prevemos que o serviço estará a todo vapor em 2026. Será então um mercado de 1 trilhão de dólares.”

A Coreia do Sul é o segundo país em número de patentes associadas à tecnologia 5G, com 2.051, depois da China, com 3.400, de acordo com a empresa de análise de dados IPlytics. As frequências 5G são no mínimo 20 vezes mais rápidas do que as 4G. Desde o governo anterior a Coreia tem programas de incentivo à inovação nas áreas de 5G e robótica. O governo de Moon Jae-in aumentou o estímulo e incluiu incentivos ao capital de risco. Nos últimos dois anos, o número de unicórnios coreanos (as startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares) subiu de três para oito.

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