Ultranacionalistas assustam minoria russa ucraniana

Espécie de ‘black blocs da Ucrânia’, eles representam uma pequena fração do movimento da Praça da Independência

KIEV – Um dos fatos que causaram alarme entre os russos étnicos e também na opinião pública europeia foi o protagonismo assumido na Praça da Independência por ultranacionalistas ucranianos. Provenientes de várias células, eles se agruparam em uma frente chamada Praviy Sektor (Setor de Direita). Armados com bastões, coquetéis molotov e ladrilhos arrancados das calçadas, assumiram a dianteira no confronto com a polícia, e transformaram o protesto pacífico em violento a partir do dia 16 de janeiro, quando o Parlamento aprovou uma lei que na prática proibia as manifestações. Em certo sentido, são os black blocs da Ucrânia.

Essas células surgiram nas universidades, em movimentos de hostilidade contra estudantes da África e da Ásia, que na visão desses ativistas ocupam nos alojamentos o lugar dos ucranianos. Estima-se que eles somem 200 pessoas. Uma pequena parte dessas células, compostas de algumas dezenas de jovens, adotou símbolos como um N cortado por um I, representando a nação; a cruz celta (dentro de um círculo) e, mais raramente, a suástica nazista. Essa atitude, cuja representatividade no conjunto das dezenas de milhares de pessoas que ocuparam a praça é próxima de zero, levou os pró-russos a rotular o movimento de “nazista, fascista e racista”.

Numa versão mais moderada, o nacionalismo ucraniano está representado no Parlamento pelo Partido Liberdade, um dos três principais da oposição, agora no poder. Os outros dois são o Pátria, da ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, e o Udar, (“Soco”, e acrônimo em inglês de Aliança Democrática Ucraniana para a Reforma), do ex-campeão mundial de boxe Vitaly Klitschko.

Na economia, todos professam ideias liberais, embora Yulia seja considerada mais populista do que Klitschko – quando primeira-ministra, ela ressarciu os poupadores pelos depósitos perdidos com o fim da União Soviética, numa medida que causou inflação. Yulia tem muito carisma, mas Klitschko tem melhor reputação, por nunca ter-se envolvido com escândalos de corrupção – já que nunca participou de governo.

As ideologias de esquerda ficaram associadas à penúria soviética e ao domínio russo do país. O Partido Comunista sobreviveu, mas é pequeno, aliado ao Partido das Regiões, do ex-presidente Viktor Yanukovich, agora na oposição.

Os manifestantes da Praça da Independência sabem que não têm muita chance na disputa pesada dos partidos e das campanhas eleitorais. Sua tendência é a de tentar influir nas políticas públicas por meio de organizações não-governamentais, em temas como corrupção e educação. O Ministério da Educação está ocupado por estudantes, que exigem mais autonomia universitária. Os ucranianos não sairão das ruas tão cedo.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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