Rebeldes perdem complexos petrolíferos

Três dias após ter conquistado Brega e Ras Lanuf oposição foge da ofensiva de Kadafi

BREGA, Líbia – Apenas três dias depois de terem conquistado os complexos petrolíferos de Ras Lanuf e Brega, distantes 150 km entre si, os rebeldes os perderam ontem. Em menos de 24 horas, as kataeb, as brigadas leais ao ditador Muamar Kadafi, avançaram 260 km, de Bin Jawad para as proximidades de Ajdabiya. Os bombardeios da coalizão não foram suficientes para conter a contra-ofensiva das kataeb, apoiadas por baterias de foguetes Grad e tanques. A derrota dos rebeldes, que deixa mais uma vez a sua “capital”, Benghazi, vulnerável às forças de Kadafi, deu um sentido de urgência a seus pedidos de armas pesadas para enfrentar as kataeb.

O Estado presenciou a fuga desordenada dos militares e combatentes civis rebeldes na entrada oeste de Brega, sob uma barragem de foguetes Grad que se aproximava rapidamente. As baterias de 40 foguetes, com um alcance de até 40 km, são montadas sobre carrocerias de caminhões. Os foguetes continuaram avançando, enquanto os rebeldes fugiam em disparada em suas caminhonetes, algumas com canhões de artilharia de 14,5 e de 23 milímetros – o armamento mais pesado disponível para o combate.

O repórter viu apenas um caminhão com bateria de foguetes em mãos dos rebeldes, mas ele se dirigia para Benghazi, aparentemente para guarnecer a cidade de 1 milhão de habitantes. Os rebeldes se retiraram de Brega às 13 horas locais (8 horas em Brasília). Uma hora e meia depois, dois tanques das kataeb já estavam a 10 km de Ajdabiya, avançando pelo deserto, no flanco sudoeste. Quando o carro do Estado passou, um deles disparou em sua direção. Aparentemente mais uma vez as forças de Kadafi realizavam um movimento de pinça na tentativa de cercar Ajdabiya, cidade de 150 mil habitantes, 160 km a oeste de Benghazi.

Mais tarde, aviões da coalizão bombardearam a área. Não foi possível verificar os resultados do ataque. Houve bombardeios da coalizão também entre Bin Jawad e Ras Lanuf. Mas as kataeb parecem ter empregado ontem uma nova tática. Mohamed Saadi Difar, combatente civil de 33 anos, disse ao Estado ter visto ao meio-dia entre 50 e 70 caminhonetes Toyota com tração nas quatro rodas avançando pelo deserto ao redor de Ras Lanuf, com canhões de artilharia em suas carrocerias. Naquele momento, aviões da coalizão bombardeavam a área, mas as caminhonetes foram poupadas, talvez por falta de informação dos pilotos sobre a que lado pertenciam. Ferido por fragmentos dos disparos de artilharia, Difar era tratado no Hospital Ahmed Imgariaf, no norte de Ajdabiya.

Outro combatente civil ferido, Ziad Hassan Thoeibi, de 21 anos, também fez um relato curioso sobre o efeito da intervenção da coalizão. “Quando vimos os bombardeios aéreos, avançamos em direção a oeste”, contou Thoeibi, que lutava em Al-Gayla, 40 km a oeste de Brega. “Mas as kataeb fugiam dos mísseis vindo na nossa direção (leste).” Ou seja, em vez de recuar, avançaram. Thoeibi foi ferido na perna esquerda e na bacia por um foguete Grad que caiu perto do carro em que estava.

O Estado ouviu vários relatos, de militares e civis, segundo os quais as kataeb usaram ontem um tipo de bomba “diferente”, que vem do alto, espalha-se por uma área extensa e queima a pele – uma descrição que poderia aplicar-se à bomba fosfórica, ou incendiária, banida por convenções internacionais. O sargento Faraj Ahmed Obeidi, de 36 anos, disse que 12 combatentes ao seu lado morreram com queimaduras provocadas por essas bombas, na estrada entre Brega e Ras Lanuf.

No hospital, o cirurgião Ezedin Bosedra disse ao Estado não ter recebido nenhum caso de queimadura. No fim da tarde, haviam chegado sete feridos, dois em estado grave. Obeidi disse também que as kataeb estavam usando as baterias de foguetes em ângulo de zero grau, o que indica que estavam a distâncias curtas dos rebeldes.

O sargento, do 36º Quartel de Benghazi, era parte de um número expressivo de militares do Exército regular rebelde no campo de batalha ontem – à diferença de combates anteriores, em que praticamente só havia civis do lado dos rebeldes. Obeidi afirmou que só do seu quartel havia cerca de 80 homens no fronte. Ele estimou que no total o efetivo do Exército regular rebelde no campo de batalha é de 350. O sargento afirmou que o general Khalifa Hafter, comandante das Forças Armadas rebeldes, continuava na linha de frente. O Estado tinha obtido na véspera a informação de que o novo comandante estivera em Bin Jawad.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*