Rebeldes recuperam terreno na Líbia

A conquista de Ajdabiya, a oeste de Benghazi, é a primeira vitória desde que a coalizão interveio no país, há uma semana

AJDABIYA – Na sua primeira conquista militar depois que as forças da coalizão intervieram na Líbia, há uma semana, os combatentes rebeldes retomaram ontem o controle de Ajdabiya, 160 km a oeste de Benghazi, o seu principal reduto. A retomada por terra seguiu-se a três dias de bombardeios da coalizão contra as tropas do ditador Muamar Kadafi, que cercavam a cidade, com o apoio de tanques e baterias de foguetes.

Uma fonte da liderança dos rebeldes disse ao Estado que a informação que tinha era a de que as forças de Kadafi se reagrupariam e passariam a noite no complexo petrolífero de Ras Lanuf, 220 km a oeste de Ajdabiya; já os combatentes rebeldes o fariam em Al-Gayla, 110 km a leste de Ras Lanuf.

O Estado contou 13 tanques e um veículo blindado destruídos, além de outros 10 tanques e 2 caminhões com baterias de foguetes Grad abandonados na entrada leste de Ajdabiya. Grande quantidade de munição, trazida pelas forças de Kadafi no seu cerco de uma semana à cidade, espalha-se agora pela estrada. O soldado Abdul-Salam Misrati, do Exército regular rebelde, contou que 30 milicianos leais a Kadafi foram mortos na batalha pela retomada da saída leste, e outros 2, presos. “Enfrentamos os homens das kataeb (brigadas de elite) cara a cara”, disse Misrati.

O professor Abdul Basset, combatente voluntário de 42 anos, disse que os dois lados avançaram e recuaram várias vezes, na disputa pelo flanco leste de Ajdabiya. “Quando os aviões da coalizão começaram a disparar mísseis contra os tanques, na noite de quarta-feira, eles bateram em retirada e nós tomamos conta da área”, disse Basset. A informação que ele tinha era de um total de 50 soldados leais ao regime mortos em Ajdabiya. Um número indefinido de feridos foi levado para Benghazi.

Idriss Idrissi, um motorista de 51 anos, caminhava na estrada com seu neto de 1 ano no colo. “É a primeira vez que saio de casa em mais de duas semanas”, contou Idrissi. “O bombardeio contra Ajdabiya foi terrível. Há muitos mortos e muitas casas destruídas.” O taxista e sua família não tiveram dúvidas quando ouviram os aviões franceses chegando: “Ficamos muito felizes. Sabíamos que vinham salvar a cidade.” Um homem sorria enquanto esfregava a sola de uma bota com um pano verde, representando a bandeira adotada por Kadafi depois do golpe de 1969.

Mas nem tudo era alegria ontem em Ajdabiya. O verdureiro Saleh Mussa Selini, de 54 anos, caminhava aflito pelos corredores do Hospital Ahmed Imgariaf, no norte da cidade, buscando informação sobre seu filho Nabil, de 24. Nabil dirigia uma caminhonete carregada de verduras por volta das 10 horas no sábado, na localidade de Al-Kuarsha, 20 km a oeste de Benghazi, quando foi detido pelas forças de Kadafi, que entravam na cidade. Selini encontrou a caminhonete queimada na estrada. Um homem que se identificou como general Khaled, das kataeb, ligou para seu celular e disse que Nabil tinha sido preso com drogas e armas. “Ele só tinha verduras no carro”, assegura o pai.

Na cidade de Zwara, 113 km a oeste de Trípoli, retomada pelas forças de Kadafi, os soldados pró-governo perseguiam ontem os rebeldes em suas casas. “Eles têm listas dos manifestantes e vídeos e os estão procurando”, disse um morador à Associated Press, citando o que aconteceu com um amigo: “Eles chegaram em quatro ou cinco carros com quatro pessoas em cada um, todos armados até os dentes com (fuzis) Kalashnikov, cercaram a casa e o levaram embora.”

Em Trípoli, jornalistas tomavam café ontem no Hotel Rixos quando uma mulher entrou no restaurante, chorando e gritando que tinha sido detida numa barreira militar na quarta-feira, amarrada e seviciada durante dois dias por 15 soldados leais a Kadafi. Ela levantou o vestido preto para mostrar sua coxa sangrando.

 Uma garçonete avançou sobre ela com uma faca de mesa chamando-a de “traidora” e outra cobriu seu rosto com um casaco para calá-la. Agentes do governo que vigiam os jornalistas agarraram a mulher e a levaram. Alguns jornalistas tentaram impedi-los. Os agentes deram um murro no rosto de um repórter da BBC e jogaram no chão uma câmera da CNN, que foi estilhaçada. Não se sabe o que aconteceu com a mulher.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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