Boa notícia: parentes de casal estão bem

O Estado localiza familiares de iraquianos que vivem no Brasil

BAGDÁ – Na tarde do dia 10, algumas horas antes de embarcar para o Iraque, o repórter do Estado recebeu uma incumbência: encontrar os parentes de Faiçal Hussein e Najah, um casal de iraquianos que vive há 20 anos no Brasil. Eles não tinham notícia da família em Bagdá desde a derrubada das torres da telefônica estatal, pelos bombardeios americanos, há duas semanas. Faiçal e Najah mandaram cartas pelo portador, e lhe deram os endereços.

Ontem, finalmente, o repórter conseguiu encontrar os parentes de Faiçal e Najah e descobriu que estão todos bem. Haifa, irmã de Faiçal, estava visitando a casa de sua irmã, Alaa, quando os estranhos bateram à porta. Olhou para o envelope da carta com uma expressão de incredulidade. “Eu estava justamente dizendo que precisava voltar ao Hotel Palestina, para ver se alguém podia me emprestar o telefone via satélite por um minuto”, sorriu Haifa, com os olhos marejados.

Mas era só metade da missão cumprida. Faltava levar a carta de Najah ao seu pai Hassen, de 75 anos. Haifa, Alla, e seu filho, Haidar, de 9 anos, vestindo a camisa do atacante brasileiro Ronaldo, da Inter de Milão, foram com o repórter até lá. Hassen, que não vê a filha há três anos, chorou ao ler a carta. “É o maior presente que você poderia ter me dado”, disse ao repórter.

Hassen conta que em uma noite, em apenas meia hora, caíram 11 bombas atrás de sua casa, onde funcionava o quartel da Força Aérea. O complexo ficou em ruínas. Não era necessário ter uma vizinhança tão incômoda para correr risco, no entanto. A uma quadra da casa de Alla estava o shopping center Al-Mansur, cujo o teto veio abaixo. As vigas de concreto formaram um V, vergadas pelo impacto das bombas.

Mas a notícia não essa. A notícia é que todos sobreviveram. E o alívio que isso lhes causa supera qualquer desgosto com suas janelas estilhaçadas, com o pó dos escombros ou a falta de eletricidade. A maior causa de angústia dos iraquianos com parentes do interior é a falta de telefone. E eles são muitos, dada a migração em massa dos iraquianos fugindo do regime, das guerras e dos problemas econômicos.

Todos os dias, eles cercam as entradas do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Hotel Palestina, onde se concentram os jornalistas, para suplicar que alguém lhes deixem usar o telefone via satélite, por um minuto que seja. Mas isso é impossível. Os escassos aparelhos, com chamadas a preços proibitivos (de US$ 1 a US$ 7 o minuto), e créditos pré-pagos noutros países, só estão disponíveis para o trabalho.

Como não é todos os dias que se pode dar uma boa notícia no jornal, aqui vai esta: Faiçal e Najah, todos os seus parentes estão bem, apenas com muita saudade. Rani, o primo de Najah, um engenheiro civil de 23 anos que terá muito trabalho pela frente nesta cidade destruída, manda um abraço. E avisa que vai se casar com Sabha, a filha de Alla, daqui a três meses. Inshallah – se Deus quiser. Vocês estão convidados.

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*