Cerco causa temor de destruição de outra cidade

Forças leais ao regime sírio agora cercam Idlib, como fizeram antes de arrasar Homs

ANTAKYA, Turquia – As forças leais ao presidente Bashar al-Assad cercaram ontem a cidade de Idlib, no noroeste da Síria, causando temores de que estejam preparando um ataque semelhante ao que arrasou Homs, no centro-oeste do país. Ativistas da oposição ligados aos rebeldes em Idlib disseram ao Estado que 140 ônibus cheios de soldados e 42 tanques chegaram aos arredores da cidade, com pouco mais de 100 mil habitantes.

O regime tem afirmado que há “grupos terroristas armados” em Idlib – espécie de senha que precede o bombardeio das cidades sírias. Os oposicionistas ouvidos pelo Estado reconhecem que há rebeldes armados de fuzis Kalashnikov na área. Os militares ordenaram pelos alto-falantes das mesquitas que  os desertores do Exército Livre Sírio deponham armas. Muitas famílias abandonaram suas casas. De acordo com os grupos locais que contam as baixas civis, 62 pessoas morreram nos confrontos de ontem em todo o país.

A subsecretária-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Valerie Amos, que inspecionou Baba Amr na quarta-feira, disse ontem que ficou “assombrada” com o que viu, e que o bairro em Homs foi “totalmente destruído”. A ONU havia solicitado acesso à área na sexta-feira, depois que ela foi ocupada na véspera pelas forças leais a Assad, ao fim de 27 dias de bombardeio. Quando finalmente entrou, a maioria dos moradores tinha ido embora.

Todos os dias surgem novas denúncias de atrocidades contra os moradores de Homs. Em um vídeo de 4 minutos publicado ontem no Youtube, uma mulher coberta com um chador preto conta que foi estuprada por cinco agentes das forças de segurança, que a acusavam de esconder armas em sua casa e ameaçaram matar seu filho.

O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, que deve chegar amanhã à Síria, disse que vai “pressionar pelo fim da violência”, mas que a “solução para o conflito está em um acordo político”. Annan foi nomeado enviado da ONU e da Liga Árabe na Síria. Suas declarações foram criticadas por oposicionistas sírios, que há muito não veem possibilidade de negociação com Assad.

O governo turco, um dos que mais têm criticado a repressão na Síria, advertiu ontem contra uma ação militar das potências ocidentais. “A Turquia  é contra a intervenção de qualquer força de fora da região”, disse o presidente Abdullah Gul, cujo país é o único membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que faz fronteira com a Síria. A base de Incirlik, utilizada pela Otan, fica a menos de 200 km da fronteira.
“Tal intervenção seria objeto de exploração”, explicou Gul. Mas completou, durante encontro com o presidente Moncef Marzouki, na Tunísia, o país onde começaram as revoluções árabes, há mais de um ano: “Não é possível a nenhum regime manter-se por meio do uso da violência e da ditadura. A decisão de usar as forças armadas contra o povo tornou a questão de interesse internacional.”

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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